Depois de abordar
aspectos relacionados com a Adicção e com o Modelo utilizado no seu tratamento
(Modelo Minnesota), assim como aspectos relacionados a algumas teorias que
explicam o consumo de álcool e drogas, e a importância das avaliações do
consumo de substâncias, vou, de seguida, abordar aspectos relacionados com a
realidade do Centro onde me encontro a exercer funções.
O Centro de Tratamento CRETA dá respostas às
necessidades de indivíduos que apresentam problemas relativamente ao consumo
exagerado e problemático de álcool ou de outras drogas.
O
Modelo Terapêutico que o Centro utiliza é o chamado Modelo Minnesota que, como
o próprio nome indica, nasceu no estado de Minnesota, na América, e é conhecido
por ter os 12 Passos e estar muito relacionado com os Grupos de Auto-Ajuda,
nomeadamente com os Narcóticos Anónimos e Alcoólicos Anónimos. Os 12 Passos
correspondem, no fundo, a uma parte deste Modelo Minnesota, que nasceu em 1935
na América, com os Alcoólicos Anónimos.
Neste
Modelo existe uma abordagem da Adicção enquanto doença existindo várias formas
da mesma se manifestar. Uma delas pode ser através do consumo de substâncias,
nomeadamente o álcool ou as drogas ilícitas.
Outra
característica do Modelo Minnesota consiste no trabalho desenvolvido por uma
equipa multidisciplinar. Na CRETA, existe um Director-Clínico que é Médico
Psiquiatra; a Equipa dos Terapeutas, composta por dois Conselheiros em Adicção
e dois Psicólogos (Clínica e Social); três Monitores Profissionais que, apesar
de não serem Terapeutas, estão formados para lidarem com um conjunto de
situações que possa ocorrer durante os seus turnos.
O nosso tratamento
divide-se em duas fases: o Tratamento Primário ou Residencial, com a duração de
12 semanas; e o Pós-Tratamento, com a duração de 9 meses, que é um
acompanhamento semanal dos pacientes que acabam o Tratamento Primário, através de Grupos de Terapia que se realizam
aos Sábados.
As regras base do
Centro são 5: proibição de posse ou uso de álcool ou de outras drogas;
proibição de qualquer tipo de envolvimento físico, emocional e/ou sexual;
proibição de acesso a qualquer divertimento exterior, salvo com indicação da
Equipa Terapêutica; proibição de qualquer tipo de violência física ou verbal;
proibição de auto-prescrição de medicamentos.
Depois, o cumprimento
de tarefas diárias, do Plano Diário e dos Horários, são igualmente importantes.
O dia começa cedo. Para
uns é apenas o contínuo do dia anterior. O despertar é às 7h. Cada um com a sua
responsabilidade de acordar. Entre o arrumar o quarto e a higiene pessoal,
aguarda-se, também, pelo pequeno-almoço, às 8h. Este é antecedido por uma
reflexão – Meditação – sobre o dia que
se terá pela frente e por um agradecimento pela 1ª refeição do dia. Depois a
medicação, assim como a entrega do único maço de cigarros (possibilita aos
pacientes trabalhar o controlo sobre determinadas questões – agitação,
ansiedade, irritabilidade – organizarem-se e governarem-se, para além de não
causar qualquer síndroma de abstinência.
Após a execução das
tarefas diárias (limpeza e arrumação do Centro) que, semanalmente, são
divididas pelos elementos do Grupo (tarefa esta da responsabilidade dos
Líderes), há a Passagem de Informação onde a Equipa Terapêutica se reúne com os
Líderes de Grupo (função, quinzenalmente, atribuída a 2 elementos, de forma
rotativa) para o processamento do restante dia anterior (situações que mereçam
atenção especial, quebra de regras, estado físico e emocional dos
recém-chegados, assim como os restantes elementos, dúvidas sobre Liderança de
Grupo). De igual modo, a Equipa Terapêutica também se reúne com o Monitor de
Serviço, com os mesmos objectivos.
Depois disto, há a
planificação do dia, por parte da Equipa Terapêutica, que, de um modo geral,
está previamente, definido: Grupos de Terapia, Terapias Individuais, Palestras,
Actividades Terapêuticas, Avaliações de Progresso, Processamento de Trabalhos
Terapêuticos, Reuniões Familiares, Reuniões da Equipa Terapêutica, Planos de
Tratamento: entre as 10h e as 17h. Pelo meio, o almoço e lanche, e a respectiva
toma da medicação.
Os Grupos de Terapia
são divididos, semanalmente, em dois grupos, de forma a potencializar a coesão,
confiança, partilha, identificação, avaliação de progresso. Nestes grupos, são
processados danos e consequências resultantes da impotência e desgoverno que a
doença da adicção ou alcoolismo produz; identificação e resolução de conflitos
entre os elementos do Grupo; dificuldades que os pacientes atravessam; formas
de lidar positivamente com sentimentos desagradáveis; estratégias de lidar com
situações desfavoráveis relativamente à doença; alterar crenças e formas
negativas de pensar, sentir e agir.
As Palestras são um
movimento mais didáctico e informativo sobre questões relativas a todo o
processo que envolva situações à doença e ao tratamento.
As Actividades
Terapêuticas são diversas (Dinâmicas de Grupo, Identificação de Sentimentos,
Coesão, Liderança, Confiança, Funcionamento em Grupo, Trabalho de Equipa,
Visualização de Filmes Terapêuticos) e sempre com base na Mudança e no
Tratamento.
As Avaliações de
Progresso dizem respeito a uma análise realizada pelo Grupo relativamente a um
Paciente específico. São avaliadas questões relacionadas com o seu envolvimento
relacional e motivacional, participação em Actividades Terapêuticas,
cumprimento de regras e expectativas, relação com os familiares e necessidade
de mudança. Durante o tratamento, há 3 Avaliações de Progresso, realizadas à 3ª,
7ª e 10ª semana de Tratamento, para cada Paciente.
Os Trabalhos
Terapêuticos são, igualmente, diversos. Trabalhos específicos da Filosofia dos
12 Passos, trabalhos direccionados para os defeitos de carácter dos Pacientes, trabalhos
relacionados com dificuldades que estes apresentam, trabalhos para
compreenderem e actuarem em formas de lidar positivamente com sentimentos
desagradáveis, assim como estratégias de lidar com situações desfavoráveis
relativamente à doença, e trabalhos que ajudem a alterar crenças e formas
negativas de pensar, sentir e agir.
A Equipa Terapêutica
da CRETA, também acredita no trabalho que deve ser realizado com os familiares
dos Pacientes internados, de forma a, de igual modo, serem ajudados e, por
outro lado, ajudarem os Pacientes. Deste modo, são realizadas Reuniões
Familiares frequentemente com a familia mais significativa para o Paciente,
sendo normalmente 3, as Reuniões durante cada processo individual.
Todo o ambiente é
Terapêutico, de forma a potencializar a mudança. A partir das 17h, os pacientes
têm o seu tempo livre, onde poderão fazer os Trabalhos Terapêuticos, ouvir
música, ver televisão, praticar desporto, ler (com horários definidos). A ceia
está marcada para as 22h, e o deitar, a partir deste momento, poderá ser feito
até às 23,45h.
Durante o fim-de-semana,
aos Sábados, há o Grupo de Pós-Tratamento – acompanhamento de ex-pacientes que
terminaram tratamento Primário – , assim como as visitas dos familiares. Há
igualmente o Programa Familiar (Grupo de Terapia com os membros familiares, ou
Palestra). Ao Domingo, o dia começa com as Tarefas Gerais (limpeza e arrumação
do Centro, de uma forma mais específica) e, à tarde, o espaço é dedicado a um
passeio organizado pelo Grupo.
Será interessante, ao
longo destes artigos, dedicar mais tempo e especificar mais algumas das
situações que foram abordadas.
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