Neste
espaço, escrevemos, já, acerca do impacto que qualquer dependência causa na
família de um dependente e, por outro lado, quais os comportamentos que esta
começa a “ganhar” para se defender dos comportamentos altamente destrutivos que
um dependente químico a, por exemplo, álcool, cocaína ou heroína apresenta.
Sabemos nós, que muitos destes comportamentos irão potencializar os processos
destrutivos desses doentes e, por sua vez, já em tratamento, bloquear e
influenciar negativamente qualquer processo terapêutico.
A
doença da Co-dependência foi definida por volta das décadas de 70 e 80,
apresentando-se como uma patologia emocional relacionada aos familiares de
qualquer dependente químico. Inicialmente, incluía apenas familiares de
alcoólicos, mas o seu significado foi alargado e, hoje, refere-se à conduta de
familiares e/ou pessoas significativas de indíviduos que apresentam um problema
de comportamento, ou qualquer outro tipo de dependência. Esta conduta está
relacionada a uma dedicação ilimitada aos parentes que sofrem dos problemas
acima referidos, tornando-se bastante intrigante e difícil de compreender o
porquê desta aparente perseverança com que alguns familiares (normalmente
companheiros e pais) deixam de viver uma vida “normal”, passando a fazê-lo em
função da pessoa que apresenta comportamentos altamente destrutivos, para ela e
para os outros (incluíndo o co-dependente) suportando, quase que de forma
heróica, todo tipo de atitudes e comportamentos problemáticos. Estes familiares
(co-dependentes) sentem-se úteis e com objectivos quando vivem apenas para
tentar ajudar a outra pessoa, esquecendo-se das próprias vidas, auto-anulando a
sua própria pessoa (tomar e cuidar de si mesmas).
Existe,
na co-dependência, um conjunto de atitudes e pensamentos que, para além de
serem patológicos e compulsivos, originam sofrimento. O co-dependente deseja
ser o “salvador”, “protector” ou responsável da outra pessoa, mesmo que para
isso se prejudique gravemente e que agrave os problemas da pessoa dependente (consciente
ou inconscientemente). Estas condutas irão favorecer os pensamentos e
comportamentos destrutivos do dependente químico, porque será sempre visto como
uma vítima e não como um responsável.
Há,
por outro lado, uma preocupação excessiva de uma pessoa em relação a outra,
originando um comprometimento das relações com as demais pessoas, começando o
co-dependente a pensar que ninguém apoia a pessoa problemática e que são ambos
incompreendidos. Outro conjunto de características dos co-dependentes é o
seguinte: 1) Tomar conta: Ser
responsável pelo outro, compelidos a ajudar, dizer que sim quando quer dizer
não, mais depressa revoltados por injustiças cometidas contra o outro do que
contra o próprio, insegurança, atracção por pessoas com dificuldades; 2) Pouca auto-estima: Fragilizados por
serem, por vezes, de famílias disfuncionais, culpabilização por acontecimentos
alheios, sentimento de culpa, rejeição, medo de falhar; 3) Repressão: Rígidos e controlados, tentam não ter consciência dos
seus pensamentos e sentimentos por medo e culpa, sentindo medo de serem
genuínos; 4) Obsessão: ansiosos e preocupados
com os outros, alteram a sua vida em prol dos outros, centrando toda a sua
energia no outro, ficando exaustos por isso; 5) Controle: tentativa de mudar e impedir comportamentos do outro
até à exaustão, frustração, medo de serem desleais, medo de perder o controlo
(ilusório), acreditando saber o que é melhor para os outros; 6) Negação: ignorar problemas ou fingir
que não estão a acontecer, minimização, esperanças irreais, acreditar nas
mentiras e manipulações, viver muito ocupado para não sentir; 7) Dependência: Sem paz e satisfação com
eles próprios, procuram a felicidade no outro, não conseguem imaginar viver sem
o outro, procura desesperada de amor e aprovação, incapacidade de funcionar sozinhos,
tolerância ao abuso do outro; 8) Comunicação
deficiente: culpam, ameaçam, imploram, subornam, aconselham, não dizem o
que pensam, agradadores ou provocadores, dificuldade em serem assertivos; 9) Limites ténues: ameaçam mas não cumprem,
aumentam a fronteira da tolerância até se submeterem a tudo, sentindo frustração
e ira permanente; 10) Falta de confiança:
não confiam em si mesmos, nos seus sentimentos e decisões, assim nos outros.
Deste
modo, é facilmente perceptível que as condutas dos co-dependentes são uma
resposta altamente doentia dos comportamentos dos dependentes químicos, sendo,
por outro lado, um factor de evolução e progressão desta doença, necessitando,
assim, de uma intervenção simultânea à do dependente.
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