segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CO-DEPENDÊNCIA


Neste espaço, escrevemos, já, acerca do impacto que qualquer dependência causa na família de um dependente e, por outro lado, quais os comportamentos que esta começa a “ganhar” para se defender dos comportamentos altamente destrutivos que um dependente químico a, por exemplo, álcool, cocaína ou heroína apresenta. Sabemos nós, que muitos destes comportamentos irão potencializar os processos destrutivos desses doentes e, por sua vez, já em tratamento, bloquear e influenciar negativamente qualquer processo terapêutico.

A doença da Co-dependência foi definida por volta das décadas de 70 e 80, apresentando-se como uma patologia emocional relacionada aos familiares de qualquer dependente químico. Inicialmente, incluía apenas familiares de alcoólicos, mas o seu significado foi alargado e, hoje, refere-se à conduta de familiares e/ou pessoas significativas de indíviduos que apresentam um problema de comportamento, ou qualquer outro tipo de dependência. Esta conduta está relacionada a uma dedicação ilimitada aos parentes que sofrem dos problemas acima referidos, tornando-se bastante intrigante e difícil de compreender o porquê desta aparente perseverança com que alguns familiares (normalmente companheiros e pais) deixam de viver uma vida “normal”, passando a fazê-lo em função da pessoa que apresenta comportamentos altamente destrutivos, para ela e para os outros (incluíndo o co-dependente) suportando, quase que de forma heróica, todo tipo de atitudes e comportamentos problemáticos. Estes familiares (co-dependentes) sentem-se úteis e com objectivos quando vivem apenas para tentar ajudar a outra pessoa, esquecendo-se das próprias vidas, auto-anulando a sua própria pessoa (tomar e cuidar de si mesmas). 



Existe, na co-dependência, um conjunto de atitudes e pensamentos que, para além de serem patológicos e compulsivos, originam sofrimento. O co-dependente deseja ser o “salvador”, “protector” ou responsável da outra pessoa, mesmo que para isso se prejudique gravemente e que agrave os problemas da pessoa dependente (consciente ou inconscientemente). Estas condutas irão favorecer os pensamentos e comportamentos destrutivos do dependente químico, porque será sempre visto como uma vítima e não como um responsável.

Há, por outro lado, uma preocupação excessiva de uma pessoa em relação a outra, originando um comprometimento das relações com as demais pessoas, começando o co-dependente a pensar que ninguém apoia a pessoa problemática e que são ambos incompreendidos. Outro conjunto de características dos co-dependentes é o seguinte: 1) Tomar conta: Ser responsável pelo outro, compelidos a ajudar, dizer que sim quando quer dizer não, mais depressa revoltados por injustiças cometidas contra o outro do que contra o próprio, insegurança, atracção por pessoas com dificuldades; 2) Pouca auto-estima: Fragilizados por serem, por vezes, de famílias disfuncionais, culpabilização por acontecimentos alheios, sentimento de culpa, rejeição, medo de falhar; 3) Repressão: Rígidos e controlados, tentam não ter consciência dos seus pensamentos e sentimentos por medo e culpa, sentindo medo de serem genuínos; 4) Obsessão: ansiosos e preocupados com os outros, alteram a sua vida em prol dos outros, centrando toda a sua energia no outro, ficando exaustos por isso; 5) Controle: tentativa de mudar e impedir comportamentos do outro até à exaustão, frustração, medo de serem desleais, medo de perder o controlo (ilusório), acreditando saber o que é melhor para os outros; 6) Negação: ignorar problemas ou fingir que não estão a acontecer, minimização, esperanças irreais, acreditar nas mentiras e manipulações, viver muito ocupado para não sentir; 7) Dependência: Sem paz e satisfação com eles próprios, procuram a felicidade no outro, não conseguem imaginar viver sem o outro, procura desesperada de amor e aprovação, incapacidade de funcionar sozinhos, tolerância ao abuso do outro; 8) Comunicação deficiente: culpam, ameaçam, imploram, subornam, aconselham, não dizem o que pensam, agradadores ou provocadores, dificuldade em serem assertivos; 9) Limites ténues: ameaçam mas não cumprem, aumentam a fronteira da tolerância até se submeterem a tudo, sentindo frustração e ira permanente; 10) Falta de confiança: não confiam em si mesmos, nos seus sentimentos e decisões, assim nos outros.

Deste modo, é facilmente perceptível que as condutas dos co-dependentes são uma resposta altamente doentia dos comportamentos dos dependentes químicos, sendo, por outro lado, um factor de evolução e progressão desta doença, necessitando, assim, de uma intervenção simultânea à do dependente.

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