segunda-feira, 6 de agosto de 2012

MECANISMOS DE DEFESA

Há alguns dias, respondi a um questionário realizado por um grupo de alunos de Psicologia de uma escola do Algarve. A última questão era relacionada com as dificuldades maiores que, enquanto profissional de um Centro de Tratamento para Alcoólicos e Dependentes Químicos, sentia trabalhando, directamente, com os Pacientes. Lembro-me que a resposta foi longa, já que essas dificuldades são variadíssimas. Hoje, irei escrever sobre, provavelmente, a maior dificuldade: Mecanismos de Defesa (MD) dos Pacientes.

A tendência é universal: todos os seres humanos tentam evitar falar, sentir e pensar sobre situações desagradáveis das suas vidas. Os MD são comportamentos que os pacientes utilizam para reagir às próprias realidades negativas, realidades desagradáveis. Pessoalmente, entendo que a Negação é o principal MD e, enquanto não for trabalhado, eliminado, potencializa um conjunto de comportamentos que irei, de seguida, indicar e descrever.

- Culpar os outros – Os pacientes tendem, por vezes, e mais numa fase inicial do tratamento, em culpar os outros pelos seus consumos ou pelos seus comportamentos, isto é, tentam colocar o centro dos problemas nos outros, em vez neles próprios: “Comecei a consumir porque a minha mulher era uma chata”; “Fui fazer noitadas porque os meus pais tentam controlar-me em demasia”; “ Se o meu filho não fosse tão agressivo eu não lhe batia”.

- Desculpas – Arranjar desculpas para os seus comportamentos: “Eu só bebo quando me sinto deprimido, triste, sem vontade para fazer nada”; “Eu bebo porque estou a passar uma fase complicada lá no trabalho”; “Hoje vou fazer noitada porque tenho uma festa de anos”.

- Mentiras – Muitas vezes, os pacientes confundem, distorcem e omitem situações da sua vida, para não “olharem” para a sua realidade. Tentam desviar a atenção do real comportamento problemático.

- Ridicularizar – Este MD é bastante utilizado em dinâmicas de Grupo. Alguns pacientes colocam os outros “em baixo”, através de observações menos próprias e correctas. Fazem-no, principalmente, quando estão a ser o foco da atenção e com o objectivo de, precisamente, o desviarem.

- Optimismo exagerado – Quando os pacientes ultrapassam o fenómeno das ressacas físicas, muitas vezes, apresentam uma motivação alta para abandonarem o tratamento: “Bem, agora já estou melhor e consigo permanecer sóbrio, sozinho e sem a ajuda de ninguém”. 

- Ser especial e diferente – Uma forma negativa de arranjar desculpas para não continuar em tratamento e, por sua vez, continuar em adicção activa: “Ninguém se importa comigo”; “Nunca irei conseguir entrar em Recuperação”; “Ninguém me consegue compreender”; “Como é que podem compreender a minha situação!?”.

- Minimizar – Os pacientes tendem a minimizar certos comportamentos e suas consequências: “Só bebi 5 cervejas”; “Nunca bati na minha namorada, fui só agressivo verbalmente”; “Apenas bati uma vez à minha Mãe, e foi só uma chapada, não foi nada”.

- Generalizar – Não ser específico é uma forma de evitar de falar da sua realidade, assim como das consequências negativas do seu comportamento. O uso exagerado de “talvez”, “de vez em quando”, “acho que sim, mas”, “não sei”.

- Hostilidade/agressividade – quando confrontados, tendem a intimidar e assustar os outros (pacientes ou elementos da Equipa Terapêutica).

- Vitimização - Fazer-se, sistematicamente, de vítima: “Eu tive pais alcoólicos e é por isso que bebo”; “Não tenho ninguém”; “Não sou tão feliz como tu”; “Os meus pais batiam-me”. A tendência de se compararem com os que têm mais e nunca com os que têm menos.

- Jogos de Poder – Em tratamento, organizar subgrupos de forma a poder controlar o apoio para diferentes situações (quando confrontados com quebra de regras, receberem o apoio desse mesmo subgrupo).

- Segredos e mente aberta – Não permitir dar-se a conhecer. Não falar das suas dificuldades, sentimentos e pensamentos. Ter segredos e ocultá-los. Não pedir ajuda para as suas reais dificuldades.

- Grandiosidade - Falsa sensação de poder, de forma a manter os outros afastados, através da arrogância, situações de desafio, agressividade, impulsividade. É também frequente a valorização dos consumos: “ninguém consome mais do que eu”; “Eu aguento muito mais do que tu”; “Ninguém manda em mim e me diz o que fazer”; “Mas quem és tu para me dizeres isso?”.

Racionalizar – encontrar justificações para os seus comportamentos e consumos; desculpas atrás de desculpas.

Passividade – Permanecer numa atitude confortável, para não “se chatear” com algo que o está a incomodar.

Inventários – O uso deste MD apenas é negativo quando influência o paciente na sua relação com o próximo, seja membro do Grupo ou da Equipa Terapêutica, já que é quase uma tendência universal: “Ainda não conheço aquele Terapeuta, mas tem cara de mau e não quero falar com ele”; “Aquele ali, não interessa a ninguém, é muito velho para me poder ajudar”.

Todos estes comportamentos acontecem quer durante o tratamento, quer durante a adicção activa de um dependente químico ou alcoólico. São altamente destrutivos para ele e para os outros, impedindo que se possa alterar comportamentos que originam consequências bastante graves. O factor positivo é que, realmente, são todos trabalhados e modificados.

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