terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A (IMPORTÂNCIA DA) ACTIVIDADE FÍSICA EM DEPENDENTES QUÍMICOS

A actividade física é definida como “todo o movimento do aparelho músculo-esquelético originador de dispêndio energético, incluindo todas as formas de exercício físico e desportivo” (Caspersen et al., 1985, conforme citado por Antunes, 2012).  Para além dos benefícios ao nível esquelético, cardiovascular, muscular, respiratório, doenças coronárias, hipertensão, certos  tipos de cancro, a actividade física promove o bem-estar, o aumento da auto-estima, reduzindo o stress, ansiedade a depressão, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2000).
 
Para Pate et al. (1995, conforme citado por Antunes, 2012), a actividade física é uma componente importante de um estilo de vida bastante saudável, devido à sua influência em aspectos físicos e mentais. Por igual modo, Pederson (2006, conforme citado por Antunes, 2012), considera que a actividade física pode trazer um bem estar psicológico importante já que modifica a percepção corporal, equilibrando a sensação de auto-controle, favorencendo a interacção entre diversos pares, diminuindo a stress.
 
Por outro lado, e de acordo com os critérios do Manual CID-10, o diagnóstico da dependência química é feito quando 3 ou mais dos seguintes critérios foram vivenciados durante o último ano anterior:
a)    Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância;
b)    dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início, término ou níveis de consumo;
c)    Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a substância, ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
d)    Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas;
e)    Abandono progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da substância psicoativa: aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos;
f)     Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de conseqüencias manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por consumo excessivo de bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos conseqüentes a períodos de consumo excessivo.
 
 
 
O seu processo de recuperação pode ser composto por recaídas e tratamentos, sempre disponibilizados por uma equipa multidisciplinar (Laranjeira, 2010) onde, cada vez mais, são envolvidos os profissionais de Educação Física (Bell, 1987, conforme citado por Antunes, 2012).
 
A actividade física na recuperação de dependentes químicos é uma área que apresenta um investimento crescente surgindo, com isso, um desenvolvimento na literatura através de estudos que relacionam estes dois pontos, tanto no tratamento, como na prevenção (Collingwood, 1991, 1994 e Arranz, 1996, conforme citado por Antunes, 2012).
 
A actividade física pode actuar em diversos factores do tratamento e recuperação de dependentes químicos. Poderá, através, da actividade física, o dependente químico melhorar a auto-estima, condição física, aumentar a imunidade e melhorar a interacção social (Mialick, 2008, conforme citado por Antunes, 2012).
 
Para além de muitos factores envolvidos neste processo, a actividade física tem um papel fundamental na recuperação de dependentes químicos, sendo parte integrante de qualquer tratamento para este problema. Na maior parte dos centros de recuperação é utilizado a prática da actividade física, em conjunto com diversas outras actividades, como grupos de terapia, palestras psico-educativas, programas familiares, prevenção à recaída. 
 
Na fase posterior do internamento (normalmente, identificada por Pós-Tratamento ou After-Care), existem várias ferramentas que podem influenciar o processo de recuperação.
 
Os “7 Magníficos”, uma ferramenta criada de suporte e de ajuda para os elementos que se encontram nas duas fases de tratamento, refere que a actividade física torna-se essencial no tratamento e na recuperação. Para além do benefício físico e mental já referido anteriormente, esta ferramenta refere a importância da actividade no estabelecimento de redes de apoio, estabelecimento e concretização de objectivos e consequentemente aumento da responsabilidade, desenvolvimento de técnicas de socialização, permitindo também a manutenção de actividades prazerosas e preenchimento significativo de um plano semanal, de forma estruturada e organizada.
 
Também ao nível neurobiológico se encontram benefícios da actividade física nesta área, ou seja, estudos apontam que esta actua positivamente nos mecanismos de recompensa cerebrais, local onde as drogas psicoactivas também actuam (Smith et al., 2008ª; Brown, 2012; Lynch, 2010, conforme citado por Antunes, 2012).
 
Por outro lado, Thanos et al. (2010, conforme citado por Antunes, 2012), refere que existe uma relação positiva entre a actividade física em adolescentes e a diminuição da escolha do consumo de cocaína na vida adulta.
 
Divernos estudos de laboratório reforçam esta relação positiva (Smith et al., 2008a; Smith et al., 2008b; Thanos, 2010; Thanos et al., 2010; Cosgrove, 2002; Smith et al., 2011b; Lynch et al., 2011;a Zlebnik et al., 2010 e Zlebnik, 2010, conforme citado por Antunes, 2012).
 
Barbanti et al. (2006, conforme citado por Antunes, 2012) elaborou um estudo que indicava que a actividade física contribui fortemente para o desenvolvimento de habilidades psicológicas e sociais, assim como o aumento da qualidade de vida, em dependentes de cocaína. Pimentel (2008, conforme citado por Antunes, 2012), demonstrou através de um estudo que mulheres dependentes químicas, em tratamento, melhoraram a sua qualidade de sono, auto-imagem e reduziram o stress, com actividade física 2 vezes por semana, ao contrário do grupo que não efectuou nenhum tipo de actividade física. Ainda segundo este autor (2004, conforme citado por Antunes, 2012), a actividade física é fundamental na prevenção, tratamento e reinserção social do dependente químico, sendo os passeios, as práticas corporais e jogos os tipos de actividade física mais indicados para a fase da desintoxicação; por outro lado, desportos individuais e musculação, para a fase do tratamento e, por fim, exercícios aérobicos e desportos colectivos na fase de reinserção social.
 
João Roldão Soares
Dezembro12

REFERÊNCIAS
 

Antunes, C.F. (2012). Actividade Física em Dependentes de Cocaína:

Revisão Literária. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Educação Física.

Laranjeiro, R. & Ribeiro, M. (2010). O Tratamento do Consumidor de Cocaína:

Avaliação Clínica, Psicossocial, Neuropsicológica e de Risco. 2ª Ed. Artes Médica: São Paulo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

4 REGRAS DA FAMÍLIA ALCOÓLICA

Todas as famílias têm as suas regras de coexistência e convivência, consoante o meio físico e sociocultural em que se inserem.

A família alcoólica apresenta 4 regras de funcionamento (Kritsberg, 1986):

1. A Regra da rigidez - A família alcoólica é inflexível, não adopta mudanças facilmente. Dado que o comportamento do alcoólico é imprevisível, para trazer mais estabilidade à família são impostas regras muito rígidas de comportamento. Crescendo com a regra da rigidez, a criança transporta para o adulto a necessidade de controlo. Os alcoólicos aprenderam que as regras rígidas de comportamento são a forma de controlar situações imprevisíveis.



2. Regra do silêncio - na família alcoólica, muitas vezes, não se pode falar do que está a acontecer na família, quer a nível do comportamento e acções da família, quer a nível dos sentimentos e das emoções. As crianças sabem que não é permitido falar sobre o que ouve ou vê, não podem falar com ninguém sobre o que sentem e vão construindo "muros" à sua volta, isolando-se. Estas crianças têm grandes dificuldades de se expressar para o resto da vida.

3. Regra da negação - A família alcoólica não aceita que há um problema com o álcool. As crianças são ensinadas a ignorar o comportamento do alcoólico e a "fazer de conta" que nada se passa. Há também uma negação dos sentimentos e as crianças não aprendem a expressar honestamente os seus sentimentos.

4. Regra do isolamento - A família alcoólica é um sistema fechado, uma vez que tenta ser auto-suficiente. Há um mito de que ninguém compreende o que se passa na família e de que não se deve confiar em ninguém fora do sistema familiar. À primeira vista, parece que o isolamento da família serve para a manter junta, mas o mito da família, "lá estaremos quando precisares de nós", não é verdadeiro, porque a família alcoólica é incapaz de ser um suporte emocional e quando uma crise surge, não está presente. Os membros individuais da família alcoólica estão isolados uns dos outros e a criança quando cresce continua a isolar-se das outras pessoas.

O uso excessivo de álcool distorce a estrutura e a dinâmica familiares.
Frequentemente a família funciona como um sistema doente, exprimindo sentimentos e comportamentos que favorecem a permanência ou agravamento do problema.

Numa perspectiva sistémica, o uso do álcool é adaptativo, homeostático e com um significado.


ALVES, A. (2003). Alcoolismo Paterno e Comportamento/Rendimento Escolar dos Filhos - Contribuição Para o Seu Estudo: Dissertação de Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

PERSONALIDADE ALCOÓLICA

Muitos estudos têm sido feitos para avaliar a personalidade do alcoólico. Até ao momento não se conseguiu determinar um perfil característico do alcoólico. Uma revisão da literatura sobre uma eventual personalidade alcoólica, sugere o aparecimento de uma constelação de traços característicos como a dependência, a negação, a depressão, a sociabilidade superficial, a instabilidade emocional, a dúvida, a baixa tolerância à frustração, a impulsividade e a auto-desvalorização, mas não uma personalidade devidamente individualizada. A questão sobre se será o abuso de álcool a levar a estes traços de personalidade ou, se serão eles que conduzem ao consumo excessivo mantém-se inconclusiva.

Alonso Fernandez (1977), num trabalho com MacCord e MacCord, conclui que os alcoólicos têm uma elevada necessidade de dependência mas, simultaneamente, rejeitam o contacto humano e têm dificuldade em se inserir em grupos organizados, apresentando uma conduta aparentemente autónoma. Para Alonso Fernandez (1990), a génese do alcoolismo é a personalidade. Considera que os alcoólicos têm características comuns como a vivência da solidão e a falta de esperança no futuro, contudo, considera que é errado falar de uma personalidade pré-alcoólica (apenas existem crianças
vulneráveis).

jovem1 Alcoolismo na adolescência



Vários estudos longitudinais têm sido realizados com o intuito de identificar características da personalidade que diferenciam os alcoólicos dos não alcoólicos, e identificaram-se factores como a baixa tolerância à tensão, impulsividade, hiperactividade, depressão e baixa auto-estima. Os resultados mais consistentes são os que correlacionam o alcoolismo com comportamentos anti-sociais.

O uso e abuso de álcool é pois um fenómeno complexo, causado pela interacção de diversos factores como a predisposição, a disponibilidade, a publicidade, a pressão social, diferentes estados psicológicos, a modelagem, os efeitos do álcool e as expectativas sobre os seus efeitos.

ALVES, A. (2003). Alcoolismo Paterno e Comportamento/Rendimento Escolar dos Filhos - Contribuição Para o Seu Estudo: Dissertação de Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

7 MAGNÍFICOS



No campo dos trabalhos relacionados com a Prevenção da Recaída em Alcoólicos e outros Dependentes Químicos há um particularmente famoso que nos fala da importância de se colocar em prática 7 disciplinas durante e após o Tratamento Primário ou Residencial (cuja duração é de, sensivelmente, 12 semanas de internamento). 

Todas estas disciplinas deverão ser realizadas e trabalhadas, principalmente, durante os dois primeiros anos após o início do Tratamento.

Sendo assim, a 1º disciplina para os pacientes investirem, é a ida regular e o investimento nas Reuniões de Nárcóticos Anónimos (NA) e Alcoólicos Anónimos (AA) (importância já referida neste espaço). Como sabemos este Modelo de Tratamento (Minnesota) nasce e desenvolve-se com os princípios e fundamentos dos AA, ficando claro a importância dos pacientes continuarem (porque os 1ºs contactos são em Tratamento Primário) a investir, com idas frequentes a estas Reuniões. 


Como complemento destes encontros, e também para se trabalhar outras áreas que não a da dependência, a Ajuda Profissional é, sem dúvida, necessária e sugerida. Quando se fala nesta ajuda, estamos a falar de um Psicólogo, Psiquiatra, Conselheiro em Adicção, ou outro tipo de profissional que possa ajudar o paciente nos seus campos mais limitados. A literatura fala de um apoio individual ou, até mesmo, de grupo. 



Por outro lado, a importância de uma Alimentação Equilibrada. Muitos dependentes referem sentir-se melhor se efectuarem pelo menos 3 refeições diárias e, dando importância a alterações significativas de hábitos auto-destrutivos, juntamente com os familiares (comunicação, horários, rotinas, etc.) Ainda em relação a este ponto, esta alimentação equilibrada está relacionada com o equilíbrio ao nível do consumo de café e tabaco. 

Juntamente com a  importância de uma alimentação saudável, é sugerido a prática de Exercício Físico. Não apenas nos benefícios físicos e mentais, mas no equilíbrio da organização do dia, na inserção de um grupo saudável e estável, assim como a concretização de objectivos. Este hábito regular de exercício vai, também, ajudar numa melhor forma de gerir e lidar com o stress ou com situações que possam gerar alguma ansiedade, já que a Gestão do Stress é, igualmente, uma das ferramentas importantes no processo Pós-Tratamento. Situações desfavoráveis que causam sentimentos e emoções difíceis de lidar são uma das maiores causas das recaídas. Deste modo, encontrar soluções favoráveis para gerir melhor o stress, torna-se fundamental (de facto, todas as outras disciplinas referidas anteriormente, acabam por ser uma resposta adequada a esta questão). 

Por úlimo, Desenvolvimento de um Programa Espiritual e o Investimento em Inventários de Manhã e à Noite. Os primeiros, ao contrário do que o nome possa sugerir, não estão relacionados com aspectos religiosos, mas sim a práticos, de valores, regras e mudança. A quebra de regras, compromissos, promessas, assim como a perda de valores morais, são consequências de quem sofre de qualquer dependência. Assim, o continuar a trabalhar todas estas mudanças, torna-se um factor principal para quem quer continuar em Recuperação. 

Por outro lado, estar consciente da realidade, isto é, reflectir sobre o planeamento diário, os objectivos cumpridos, expectativas alcançadas, assim como problemas a resolver, dificuldades para lidar, através de um investimento em inventariar o dia, duas vezes diariamente (de manhã e à noite), é a última disciplina que, este trabalho no campo das Prevenções à Recaída, dá destaque.

OXI E KOAKSIL



Nos últimos meses, têm surgido imensas notícias sobre o aparecimento de novas drogas sintéticas, das quais a OXI parece, de acordo com alguns dados ultimamente anunciados, como uma das mais potentes e devastadoras. Estudos no Brasil, efectuados com profissionais de Saúde e de Química, estão a ser avançados com o objectivo de se compreender melhor as suas características. Para já, sabe-se, apenas, que a OXI é uma versão mais perigosa da cocaína e do chamado “crack”. 

O princípio activo da OXI é a pasta base da folha de coca, mas ao contrário do “crack”, onde é utilizado bicarbonato de sódio e amoníaco, na OXI é utilizado cal virgem e algum combústivel, como gasolina ou querosene, também designado por petróleo iluminante, componentes corrosivos e extremamente danosos para o organismo. Esta nova droga é produzida na Bolívia e no Perú e começou a entrar no Brasil em 2005.


oxi (Foto: oxi)



Os efeitos dos consumos imediatos chegam ao cérebro entre a 7 e 9 segundos, acelerando o metabolismo, causando sensações de euforia, depressão, medo e paranóia. Contrariamente à cocaina, os efeitos duram pouco tempo, no máximo, 10 minutos, o que “obriga” o consumidor a inalar repetidamente a OXI para manter as sensações, aumentando, assim, as agressões ao organismo. Por outro lado, os componentes adicionais, como a cal virgem e combustível, tornam a Oxi altamente letal para os consumidores, assim como a quantidade do princípio activo da cocaína, que neste caso é de cerca de 80%, contrariamente ao “crack”, que é cerca de 40%.
Ao fumar a OXI, o consumidor envia querosene e cal virgem para o pulmão, provocando queimaduras que levam o órgão à falência. De igual modo, o aumento da pressão arterial, alto risco de enfarte e acidente vascular cerebral. A longo prazo, o cérebro é afectado, sofrendo perda da memória e diminuição da capacidade de concentração e de raciocínio.

Uma outra nova droga que está a provocar diversas mortes entre consumidores mais jovens, nomeadamente na Rússia, é a chamada KOAKSIL, uma espécie de morfina “suja”. Estes jovens não vivem mais do que 2 ou 3 anos e o número muito reduzido dos que conseguem sobreviver, ficam totalmente desfigurados. O seu componente activo é a codeína, um analgésico, que é misturado com ingredientes como gasolina, tintas ou diluentes, ácido clorídrico, iodo e fósforos vermelhos. Estes consumos deixam a pele do consumidor esverdeada e escamosa no local das injecções e, após alguns dias, os vasos sanguínios lilatam ao ponto de rebentarem. Há o aparecimento de grangrena e as amputações são a única solução. Por outro lado, o tecido ósseo poroso começa a dissipar, devido à acidez da droga. 

Semelhante ao caso da OXI, existe ainda pouca informação sobre a KOAKSIL, assim como estudos científicamente comprovados, contudo, através da Internet é possível recolher bastante informação.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

HONESTIDADE




"PEDIU AJUDA PARA O "BRAÇO", QUANDO NA VERDADE LHE "DOÍA" A "PERNA".
 
SAÍU COXO DO TRATAMENTO."

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A DOENÇA DA FAMÍLIA



Ao longo dos anos, a pesquisa tem demonstrado que a família é uma das áreas mais esquecidas, em termos de ajuda, no tratamento das doenças adictivas.
Todos, sem excepção, são atingidos, quer física, quer emocionalmente por todos os problemas do adicto.
Os membros da família deixam-se envolver no problema da adicção, da mesma forma que uma família com outros tipos de problemas se envolve. Como é, por exemplo, para uma família cujo membro sofra de um avc, doença mental, problema cardíaco ou problemas físicos que impeçam a pessoa de funcionar adequadamente?

Na doença da adicção, cada adicto tem um forte impacto na vida de várias pessoas, sendo que todas elas influenciam o adicto, assim como todo o seu processo.
Na maior parte dos casos, quando a família pede ajuda para lidar com os problemas da adicção, esta está já fora de controlo. A família sente-se bloqueada, e incapaz de deter toda a desgovernabilidade que é evidente, sentindo-se, também, culpada e responsável pelo comportamento do adicto. 

Uma das principais razões que permite a progressão das adicções é o facto de os familiares negarem o que é evidente. 


 

A negação é um de vários comportamentos da família durante o processo da adicção. Estes comportamentos ou fases podem ser avaliados em termos individuais, mas por certo que existem muitas semelhanças no contexto mais geral:

1.     Negação/justificação – perante um primeiro indício que se está perante uma situação problemática, a família não aceita o problema encontrando justificações banais: “foi só para experimentar”, “vamos esquecer”, “não é nada de importante, foi apenas uma vez”, “não é possível, pois ele nunca usou drogas”, “foi festa de anos, passagem de ano”.

2.    Também perante situações evidentes, a família pode começar a culpar os outros pelos consumos e comportamentos do adicto, começando a protege-lo de forma obsessiva. Também se inicia conflitos entre os familiares, já que se culpam uns aos outros: a mãe culpa o pai porque é demasiado severo com ele ou porque nunca está em casa; o pai culpa a mãe porque lhe faz as vontades todas, dá-lhe dinheiro ou porque nunca lhe disse nada antes; também podem culpar os amigos ou os irmãos.

3.    Quando o problema é mais que evidente, sendo impossível esconder, negar ou culpar os outros, impera a regra ou lei do silêncio. Evita-se falar sobre o assunto devido ao medo e às preocupações das consequências ou reacções do adicto que o possam levar a voltar a consumir ou beber; não há diálogo, sendo mais confortável não se falar do que se está a ver ou ouvir. Por outro lado, há grande tensão entre os familiares. De igual modo, mudança de comportamento, ou seja, a família torna-se arrogante e agressiva para com o adicto.

4.    Pensando que se está a ajudar o adicto a lidar com as suas ansiedades, medos e vontade se consumir, dá-se dinheiro, compra-se drogas, consome-se ou bebe-se com o adicto. Também se encobre os problemas resultantes dos comportamentos dele, mentindo ou assumindo as culpas. Há uma total mudança de personalidade. Tudo por promessas ou compromissos que não se cumprem, o que origina raiva, ressentimento e sentimentos de culpa, mas que, claramente, não representa uma melhor posição, pois apenas se facilita a progressão da adicção activa do doente.

5.    A família começa a evitar sair de casa e de conviver com amigos ou outros familiares para não enfrentarem o problema. (isolamento). Há um sentimento de que são as únicas que têm este problema. O familiar vive em função do dependente químico. Começa-se a centrar toda a atenção no adicto, fazendo tentativas de controlar e corrigir a vida dele.


6.    Devido à mudança do estilo de vida, podem surgir problemas de saúde (ansiedade, estados depressivos), problemas no trabalho, problemas relacionais.

7.    Para evitar reconhecer todos os problemas e situações de desgovernabilidade e deterioração física e mental, a família pode fugir para realidades adversas como o trabalho compulsivo, os negócios ou outros interesses, apesar do medo e da desconfiança aumentarem à medida que se esgotam todas as desculpas para os consumos do adicto.

8.    Quando se esgotam todas as tentativas de controlar e ajudar o adicto, quando se aceita o facto de que a vida está progressivamente a ser afectada, que as relações, o trabalho, a condição emocional e física estão destruídas, toma-se consciência do poder que a doença da adicção tem sobre o adicto e sobre todos os familiares, admite-se o problema e a necessidade de ajuda

9.    Depois é o acreditar que é possível encontrar ajuda, que sozinho não se é possível lidar com a doença da adicção e que se o adicto não quiser ajuda, a própria família não necessita de se afundar com ele e, deverá procurar ajuda para si. Deste modo, os grupos de ajuda mútua, ou seja, os Al-Anon (AA) e as Famílias Anónimas (NA), são um espaço seguro e confortável.




Neste campo, há algumas dificuldades e relutância por parte das famílias, como é o caso das dificuldades em falar de sentimentos frente a outras pessoas (Culturalmente, mais nos Homens do que nas Mulheres).
Por outro lado, quando os familiares vão às reuniões, acreditam que podem aprender a curar o seu adicto, em vez de aprender diferentes formas de lidar com o comportamento do adicto (deixar de facilitar a dependência do adicto).

Inicialmente, torna-se importante apenas ouvir, sendo isso o que a família precisa, para começar a sentir que a sua história e experiência é igual ao que se ouve. Depois, o necessário é o familiar falar de si mesmo, deixando de olhar para o adicto, de falar sobre ele, de o culpar, etc. 

Torna-se, igualmente, importante pôr a recuperação emocional em primeiro lugar e começar a pensar de forma positiva em cuidar de si própria. Não deixar de fazer coisas por causa do adicto, arranjar tempo para si e não apenas para o adicto, olhar para os danos que fez a ele próprio ou a outros familiares com os comportamentos que teve. 

Mudar de atitude porque as anteriores não resultaram, é outro dos passos mais importantes a tomar: compreender a diferença entre o curar e intervir sobre a doença; parar de ajudar o adicto; praticar amor firme; intervenção jurídica; tomar a iniciativa.
Mais especificamente às crianças, e quando estas são apanhadas pela doença da adicção, torna-se necessário:

1.     Dizer a verdade – ser honesto com os filhos. É muito melhor para os familiares e para eles do que verem a doença e o comportamento do adicto como tabus. Devido às mentiras, promessas não cumpridas, às desilusões, é importante que as crianças sintam que a culpa não é delas, mas sim porque o pai ou mãe têm uma doença;
2.    Aceitar os sentimentos delas relativamente à mãe ou pai;
3.    Encontrar ajuda para as crianças;
4.    Educá-las;
5.    Impor limites;
6.    Atenção aos seus comportamentos.

Infelizmente, a doença da adicção como uma doença da família, também influencia todo o processo terapêutico, no momento do tratamento de um adicto.

Alguns exemplos:

1.     Em programas familiares, grande dificuldade em falarem de si, sempre focadas no adicto, encontrando-se a resistir ao processo de mudança (continuar com atitudes antigas). Não são específicos, divagam, usam o silêncio, são falsas, quer a falar de sentimentos, quer a falar de como sentem o familiar;
2.    Há a quebra de regras, através dos telefonemas, dos horários das visitas, do que trazem nas visitas;
3.    Questionam as decisões da equipa, podem culpar a equipa e compactuar com os comportamentos dos pacientes em tratamento (guardam informações importantes ou segredos). São várias as vezes que querem tratamento especial;
4.    Facilitam e fazem as "vontades todas" ao paciente, mesmo contra sugestões da Equipa Terapêutica.