segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A CRETA


Depois de abordar aspectos relacionados com a Adicção e com o Modelo utilizado no seu tratamento (Modelo Minnesota), assim como aspectos relacionados a algumas teorias que explicam o consumo de álcool e drogas, e a importância das avaliações do consumo de substâncias, vou, de seguida, abordar aspectos relacionados com a realidade do Centro onde me encontro a exercer funções.

 O Centro de Tratamento CRETA dá respostas às necessidades de indivíduos que apresentam problemas relativamente ao consumo exagerado e problemático de álcool ou de outras drogas.

O Modelo Terapêutico que o Centro utiliza é o chamado Modelo Minnesota que, como o próprio nome indica, nasceu no estado de Minnesota, na América, e é conhecido por ter os 12 Passos e estar muito relacionado com os Grupos de Auto-Ajuda, nomeadamente com os Narcóticos Anónimos e Alcoólicos Anónimos. Os 12 Passos correspondem, no fundo, a uma parte deste Modelo Minnesota, que nasceu em 1935 na América, com os Alcoólicos Anónimos.

Neste Modelo existe uma abordagem da Adicção enquanto doença existindo várias formas da mesma se manifestar. Uma delas pode ser através do consumo de substâncias, nomeadamente o álcool ou as drogas ilícitas. 

Outra característica do Modelo Minnesota consiste no trabalho desenvolvido por uma equipa multidisciplinar. Na CRETA, existe um Director-Clínico que é Médico Psiquiatra; a Equipa dos Terapeutas, composta por dois Conselheiros em Adicção e dois Psicólogos (Clínica e Social); três Monitores Profissionais que, apesar de não serem Terapeutas, estão formados para lidarem com um conjunto de situações que possa ocorrer durante os seus turnos.

O nosso tratamento divide-se em duas fases: o Tratamento Primário ou Residencial, com a duração de 12 semanas; e o Pós-Tratamento, com a duração de 9 meses, que é um acompanhamento semanal dos pacientes que acabam o Tratamento Primário,  através de Grupos de Terapia que se realizam aos Sábados.


Creta Tratamento - Parede, Portugal




As regras base do Centro são 5: proibição de posse ou uso de álcool ou de outras drogas; proibição de qualquer tipo de envolvimento físico, emocional e/ou sexual; proibição de acesso a qualquer divertimento exterior, salvo com indicação da Equipa Terapêutica; proibição de qualquer tipo de violência física ou verbal; proibição de auto-prescrição de medicamentos.

Depois, o cumprimento de tarefas diárias, do Plano Diário e dos Horários, são igualmente importantes.

O dia começa cedo. Para uns é apenas o contínuo do dia anterior. O despertar é às 7h. Cada um com a sua responsabilidade de acordar. Entre o arrumar o quarto e a higiene pessoal, aguarda-se, também, pelo pequeno-almoço, às 8h. Este é antecedido por uma reflexão – Meditação – sobre  o dia que se terá pela frente e por um agradecimento pela 1ª refeição do dia. Depois a medicação, assim como a entrega do único maço de cigarros (possibilita aos pacientes trabalhar o controlo sobre determinadas questões – agitação, ansiedade, irritabilidade – organizarem-se e governarem-se, para além de não causar qualquer síndroma de abstinência. 

Após a execução das tarefas diárias (limpeza e arrumação do Centro) que, semanalmente, são divididas pelos elementos do Grupo (tarefa esta da responsabilidade dos Líderes), há a Passagem de Informação onde a Equipa Terapêutica se reúne com os Líderes de Grupo (função, quinzenalmente, atribuída a 2 elementos, de forma rotativa) para o processamento do restante dia anterior (situações que mereçam atenção especial, quebra de regras, estado físico e emocional dos recém-chegados, assim como os restantes elementos, dúvidas sobre Liderança de Grupo). De igual modo, a Equipa Terapêutica também se reúne com o Monitor de Serviço, com os mesmos objectivos.

Depois disto, há a planificação do dia, por parte da Equipa Terapêutica, que, de um modo geral, está previamente, definido: Grupos de Terapia, Terapias Individuais, Palestras, Actividades Terapêuticas, Avaliações de Progresso, Processamento de Trabalhos Terapêuticos, Reuniões Familiares, Reuniões da Equipa Terapêutica, Planos de Tratamento: entre as 10h e as 17h. Pelo meio, o almoço e lanche, e a respectiva toma da medicação.

Os Grupos de Terapia são divididos, semanalmente, em dois grupos, de forma a potencializar a coesão, confiança, partilha, identificação, avaliação de progresso. Nestes grupos, são processados danos e consequências resultantes da impotência e desgoverno que a doença da adicção ou alcoolismo produz; identificação e resolução de conflitos entre os elementos do Grupo; dificuldades que os pacientes atravessam; formas de lidar positivamente com sentimentos desagradáveis; estratégias de lidar com situações desfavoráveis relativamente à doença; alterar crenças e formas negativas de pensar, sentir e agir.

As Palestras são um movimento mais didáctico e informativo sobre questões relativas a todo o processo que envolva situações à doença e ao tratamento.

As Actividades Terapêuticas são diversas (Dinâmicas de Grupo, Identificação de Sentimentos, Coesão, Liderança, Confiança, Funcionamento em Grupo, Trabalho de Equipa, Visualização de Filmes Terapêuticos) e sempre com base na Mudança e no Tratamento.

As Avaliações de Progresso dizem respeito a uma análise realizada pelo Grupo relativamente a um Paciente específico. São avaliadas questões relacionadas com o seu envolvimento relacional e motivacional, participação em Actividades Terapêuticas, cumprimento de regras e expectativas, relação com os familiares e necessidade de mudança. Durante o tratamento, há 3 Avaliações de Progresso, realizadas à 3ª, 7ª e 10ª semana de Tratamento, para cada Paciente. 

Os Trabalhos Terapêuticos são, igualmente, diversos. Trabalhos específicos da Filosofia dos 12 Passos, trabalhos direccionados para os defeitos de carácter dos Pacientes, trabalhos relacionados com dificuldades que estes apresentam, trabalhos para compreenderem e actuarem em formas de lidar positivamente com sentimentos desagradáveis, assim como estratégias de lidar com situações desfavoráveis relativamente à doença, e trabalhos que ajudem a alterar crenças e formas negativas de pensar, sentir e agir.

A Equipa Terapêutica da CRETA, também acredita no trabalho que deve ser realizado com os familiares dos Pacientes internados, de forma a, de igual modo, serem ajudados e, por outro lado, ajudarem os Pacientes. Deste modo, são realizadas Reuniões Familiares frequentemente com a familia mais significativa para o Paciente, sendo normalmente 3, as Reuniões durante cada processo individual.

Todo o ambiente é Terapêutico, de forma a potencializar a mudança. A partir das 17h, os pacientes têm o seu tempo livre, onde poderão fazer os Trabalhos Terapêuticos, ouvir música, ver televisão, praticar desporto, ler (com horários definidos). A ceia está marcada para as 22h, e o deitar, a partir deste momento, poderá ser feito até às 23,45h.

Durante o fim-de-semana, aos Sábados, há o Grupo de Pós-Tratamento – acompanhamento de ex-pacientes que terminaram tratamento Primário – , assim como as visitas dos familiares. Há igualmente o Programa Familiar (Grupo de Terapia com os membros familiares, ou Palestra). Ao Domingo, o dia começa com as Tarefas Gerais (limpeza e arrumação do Centro, de uma forma mais específica) e, à tarde, o espaço é dedicado a um passeio organizado pelo Grupo.

Será interessante, ao longo destes artigos, dedicar mais tempo e especificar mais algumas das situações que foram abordadas.

MODELO MINNESOTA

Antes de vos escrever sobre o Modelo Minnesota propriamente dito, é importante algumas ideias sobre o que se passava antes do aparecimento deste modelo.
O álcool, ao longo dos tempos, sempre fez parte da vida social, religiosa e política. Desde os tempos da Babilónia, onde o acto de beber era um “presente dos Deuses” e utilizado nos rituais religiosos, passando pelos Egípcios com os “segredos divinos” trazidos pelo Deus Isis, não esquecendo os Hebreus, Gregos e Romanos com a sua popular bebida, o Vinho. A própria Bíblia faz referência ao álcool e este sempre acompanhou as actividades humanas de grande escala, como a Guerra. Também de referir a descoberta de como destilar o álcool, assim como o desenvolvimento das colónias americanas.

Por volta de 1784, o Dr. Benjamin Rush torna-se o primeiro Americano a pronunciar problemas alcoólicos como doença, fazendo referência a uma doença progressiva, identificando diferentes fases. Inicialmente, Rush não condenava o consumo de cerveja ou vinho. Referia que, consumidos em quantidades moderadas, promoviam saúde, mas rapidamente identificou que o caminho certo seria sempre o da abstinência total. Anos mais tarde, começam a surgir relatos de grupos de alcoólicos que afirmavam “sentirem-se bem” quando falavam com outros alcoólicos e sobre o impacto que o álcool tinha nas suas vidas. Começam, de igual modo, a nascer os grupos fundados por alcoólicos que ajudavam outros alcoólicos, como o “Washingtonian Temperance Society” (1840) e o “Women´s Christian Temperance Union”(1874).

Até 1930 os americanos ignoravam os problemas do alcoolismo, estando mais focados na Grande Depressão e na 2ª Guerra Mundial. Estes eram fechados em hospitais juntamente com doentes mentais, eram presos ou eram ignorados, sendo o problema do alcoolismo negado e considerado como uma fraqueza ou doença moral. 

Em 1935, surgem dois nomes bastante importantes para o desenvolvimento do tratamento do alcoolismo, assim como para o Modelo Minnesota: Bill Wilson e Bob Smith, fundadores dos Alcoólicos Anónimos (AA).

Anos mais tarde, entre 1940 e 1950, começam, no Estado de Minnesota, nos E.U.A., algumas experiências para tratamento do alcoolismo. Estas surgiram em 3 centros: Pionner House, Hazelden e Willmar State Hospital. Este acontecimento foi como que uma revolta contra a cultura e ideias da época de como os alcoólicos deveriam ser tratados, como referido anteriormente, e a sua filosofia assentava toda nos princípios dos AA.

Estes, de uma forma geral, são os seguintes: 1) Ser Honesto – todas as pessoas beneficiam com este princípio, apesar de haver uma tendência universal em se negar o que é desagradável, em evitar falar nos factos negativos, exagerando-se nas forças e minimizando as limitações; 2) Juntar-se aos Outros – quando se quer fazer mudanças longas no comportamento, deve-se juntar a outras pessoas que tenham esse mesmo objectivo. Admitir as dificuldades e admitir ser necessário a ajuda mútua, poderá transformar limitações em forças; 3) Virar-se para um Poder Superior – acreditar em algo superior que possa ajudar; 4) “Limpar a Casa” – Contar a verdade aos outros. O que fizeram devido ao alcoolismo e depois reparar os danos provocados aos outros. 5) Ficar em forma - As pessoas em recuperação (deixar de beber e adquirir um estilo de vida saudável) necessitam de ficar em forma física, social, emocional e espiritualmente. Importante, também, fazer meditações, rezar e exercícios que renovem os antigos hábitos de pensar; 6) Ajudar o Outro – Para as pessoas em recuperação o receber é inseparável do dar. Inicialmente, é necessário receber; mais tarde, é importante dar. Apenas dando aos outros se consegue manter o que se tem.

Torna-se, pois, importante caracterizar cada um destes 3 centros.
O Pionner House foi o 1º centro de tratamento no Minnesota. Patrick Cronin, a 1ª pessoa reconhecida a ganhar sobriedade através dos AA, deparou-se com o facto de não haver reuniões na sua cidade. Assim, tentou criar um pequeno grupo de auto-ajuda num apartamento em Minneapolis. Contudo, e devido às ideias e cultura que, ainda, estavam definidas na época, a população de Minneapolis, não aceitou muito bem este facto, o que não permitiu a criação deste grupo.  Porém, e convicto de que era necessário continuar com o programa de AA, de modo a ser ajudado e de ajudar os outros, Cronin conseguiu um espaço, em 1948, para receber reuniões de AA, assim como pessoas que necessitavam de ajuda. Este foi chamado de “Pionner House”, onde cada residente recebia uma cópia do “Big Book” – o texto básico dos AA – e outros materiais de literatura dos AA, como os “12 Passos” e as “12 Tradições”.
Os “12 Passos” foram a base do tratamento em Pionner House, onde Cronin, responsável pelo centro, se focava mais nos Passos 4 e 5, que referem “os inventários pessoais” e a sua partilha a uma outra pessoa.
Pionner House, hoje um centro que oferece ajuda a adolescentes com problemas de dependência química (DQ), será sempre lembrado como o primeiro centro baseado na filosofia de AA, no Minnesota, que ajudava os alcoólicos das ruas de Minneapolis.

O centro Hazelden é, por sua vez, associado a Richard Coyle Lilly, igualmente alcoólico. Em 1947 comprou terrenos perto de Center City, em Minnesota que, posteriormente, vendeu a um grupo de empresários que queriam construir um centro de tratamento para alcoólicos. Inicialmente, foi um centro apenas para empresários alcoólicos que, também, seguia a filosofia de AA, em 1948.
Hazelden tinha 4 expectativas para os seus pacientes: os pacientes deveriam praticar comportamentos de responsabilidade, assistir a palestras sobre os 12 Passos, envolverem-se com outros pacientes e fazer as suas camas. Outra inovação foi a integração de um conselheiro (alcoólico em recuperação e pessoa habilitada no tratamento de dependências) como residente do centro.
Por outro lado, Hazelden criou o “Fellowship Club”, um “Half-way”, centro que permitiria aos pacientes que acabassem o tratamento primário de continuar a ter ajuda e trabalhar a sua reinserção, já que muitos pacientes não tinham trabalho nem casa. De igual forma, criou o “Dia Linn”, um centro para mulheres, em 1956.

Relativamente ao “Willmar Hospital”, este recebia alcoólicos e doentes mentais e não fazia diferenciação destes dois tipos, ou seja, fazia desintoxicações e encaminhava os alcoólicos para junto dos doentes mentais.
Quando Nelson Bradley, um médico, chegou para responsável do hospital, levou Daniel Anderson para director Este decidiu alterar e implementar um conjunto de situações. Passou a separar os alcoólicos dos doentes mentais, introduziu uma política de porta aberta e introduziu alcoólicos em recuperação como conselheiros. Com isto, foi criado um novo movimento, em 1954, de Aconselhamento no Alcoolismo. Assim, membros de AA juntaram-se a psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais no tratamento do alcoolismo e de outras drogas.

O programa de Willmar foi o primeiro a desenvolver uma abordagem multidisciplinar, cujo resultado foi uma combinação de Psicologia Clínica, Medicina e práticas de AA que se começou a chamar de Modelo Minnesota. Introduziu, também, uma série de novas ideias revolucionárias para a época: 1) O alcoolismo existe: as pessoas tinham dúvidas sobre a existência do alcoolismo e não queriam olhar nem acreditar para as suas consequências e poder. Anderson combateu esta ideia com factos e sinais de que, de facto, o alcoolismo existia;  2) O alcoolismo é uma doença: as ideias da época relatavam que com “força de vontade” se poderia deixar de beber. Anderson introduziu conceitos de que o alcoólico estava impossibilitado de parar de beber e demonstrava perda de controlo relativamente à bebida; 3) O alcoólico não tem culpa de ser alcoólico: anteriormente, havia a ideia da questão da fraqueza moral. Só bebia quem era “fraco” moralmente; 4) O alcoolismo é uma doença multifacetada: começou-se a tratar os pacientes de forma holística: física (consequências físicas do abuso do álcool), emocional (os ressentimentos, os medos e arrependimentos que levavam ao isolamento e à negação/esconder as consequências) e espiritualmente (acreditar que sozinhos não conseguem parar de beber); 5) O alcoolismo é crónico e primário: levou os técnicos a tratar 1º o alcoolismo e não questões emocionais. Por outro lado, abandonou-se a ideia de curar e iniciou-se um tratamento com o objectivo de ensinar os pacientes a viverem com a sua doença de forma totalmente abstinente; 6) A motivação inicial no tratamento não influência o sucesso do mesmo; 7) A informação sobre o alcoolismo deve começar na comunidade.

Willmar foi, de igual modo, o primeiro centro a admitir pessoas com dependências de outras substâncias e Daniel Anderson introduziu o termo de “dependência química”. Surgiu, também o termo “adicções cruzadas”, isto é, uma pessoa adicta a uma substância pode ser vulnerável a desenvolver dependências a outras substâncias.  Neste sentido, os profissionais concluiram que os alcoólicos e outros adictos podiam ter sucesso no tratamento se tratados em conjunto. Todos estes conceitos trouxeram a ideia de tratar em vez de curar. Desenvolveu-se o aparecimento do “Só por Hoje”, de forma a ajudar os pacientes a lidarem com o facto de viverem a abstinência dia-a-dia e não para toda a vida.

Com este conjunto de questões, Anderson e os seus colegas, depararam-se com um problema: o que fazer com os pacientes durante o dia? A solução passava por duas dimensões: a primeira, criar um ambiente de tratamento que fosse todo ele terapêutico, isto é, tudo o que os doentes fizessem deveria permitir alcançar mudanças na forma de pensar, sentir e agir; os pacientes deveriam ajudarem-se uns aos outros. 

Deste modo, através de conversas supervisionadas por profissionais, os pacientes podiam partilhar as suas histórias e o que tinham em comum: a vida destruída pelas drogas e álcool. Neste sentido, desenvolve-se o conceito de “identificação”: “eu não estou sozinho”, “o que me aconteceu está a acontecer com outras pessoas”. Para tornar o ambiente ainda mais poderoso, mais intensivo e com maior interacção entre os pacientes, Anderson retirou os alcoólicos das instituições mentais, criando uma área de tratamento diferente. 

Foi, de igual modo, ultrapassada a barreira entre os profissionais e pacientes que se começaram a tratar por tu, proporcionando mais confiança e auto-revelação; estes começaram a participar em pequenas sessões de grupo que se focavam em objectivos específicos de recuperação: lidar com ressentimentos, fazer reparações de danos causados, por exemplo. Desenvolveu-se a importância das palestras sobre sinais e sintomas do alcoolismo e a ideia de que ao ajudar os outros, está-se a ajudar a si próprio. Por outro lado, aparecem as sessões de terapia individual.
Os pacientes começam a fazer tarefas diárias, como trabalhos na biblioteca, lavandaria, cozinha, manutenção da casa. Modificou-se o tempo de tratamento, que ao invés de ser meses e anos, começou a ser de curta duração, focando-se em mudanças de comportamento no imediato e não em procurar e curar as causas do alcoolismo.

Com todas estas mudanças, que nada tinham de novo (vinham da Medicina, Psicologia e Psiquiatria, mas foram adaptadas e trabalhadas de forma diferente), o Modelo teve dois grandes objectivos: ensinar o paciente a desaprender o estilo de vida auto-destrutivo e promover a abstinência de todas as substâncias. Por outro lado, apresentou 3 principais perspectivas: tratar os pacientes com DQ (em vez de os ignorar, julgar ou colocar em hospitais mentais), tratá-los com dignidade (a mensagem de que era essencial tratá-los com respeito) e tratá-los de forma holística (físico, mente e espírito). 

CO-DEPENDÊNCIA


Neste espaço, escrevemos, já, acerca do impacto que qualquer dependência causa na família de um dependente e, por outro lado, quais os comportamentos que esta começa a “ganhar” para se defender dos comportamentos altamente destrutivos que um dependente químico a, por exemplo, álcool, cocaína ou heroína apresenta. Sabemos nós, que muitos destes comportamentos irão potencializar os processos destrutivos desses doentes e, por sua vez, já em tratamento, bloquear e influenciar negativamente qualquer processo terapêutico.

A doença da Co-dependência foi definida por volta das décadas de 70 e 80, apresentando-se como uma patologia emocional relacionada aos familiares de qualquer dependente químico. Inicialmente, incluía apenas familiares de alcoólicos, mas o seu significado foi alargado e, hoje, refere-se à conduta de familiares e/ou pessoas significativas de indíviduos que apresentam um problema de comportamento, ou qualquer outro tipo de dependência. Esta conduta está relacionada a uma dedicação ilimitada aos parentes que sofrem dos problemas acima referidos, tornando-se bastante intrigante e difícil de compreender o porquê desta aparente perseverança com que alguns familiares (normalmente companheiros e pais) deixam de viver uma vida “normal”, passando a fazê-lo em função da pessoa que apresenta comportamentos altamente destrutivos, para ela e para os outros (incluíndo o co-dependente) suportando, quase que de forma heróica, todo tipo de atitudes e comportamentos problemáticos. Estes familiares (co-dependentes) sentem-se úteis e com objectivos quando vivem apenas para tentar ajudar a outra pessoa, esquecendo-se das próprias vidas, auto-anulando a sua própria pessoa (tomar e cuidar de si mesmas). 



Existe, na co-dependência, um conjunto de atitudes e pensamentos que, para além de serem patológicos e compulsivos, originam sofrimento. O co-dependente deseja ser o “salvador”, “protector” ou responsável da outra pessoa, mesmo que para isso se prejudique gravemente e que agrave os problemas da pessoa dependente (consciente ou inconscientemente). Estas condutas irão favorecer os pensamentos e comportamentos destrutivos do dependente químico, porque será sempre visto como uma vítima e não como um responsável.

Há, por outro lado, uma preocupação excessiva de uma pessoa em relação a outra, originando um comprometimento das relações com as demais pessoas, começando o co-dependente a pensar que ninguém apoia a pessoa problemática e que são ambos incompreendidos. Outro conjunto de características dos co-dependentes é o seguinte: 1) Tomar conta: Ser responsável pelo outro, compelidos a ajudar, dizer que sim quando quer dizer não, mais depressa revoltados por injustiças cometidas contra o outro do que contra o próprio, insegurança, atracção por pessoas com dificuldades; 2) Pouca auto-estima: Fragilizados por serem, por vezes, de famílias disfuncionais, culpabilização por acontecimentos alheios, sentimento de culpa, rejeição, medo de falhar; 3) Repressão: Rígidos e controlados, tentam não ter consciência dos seus pensamentos e sentimentos por medo e culpa, sentindo medo de serem genuínos; 4) Obsessão: ansiosos e preocupados com os outros, alteram a sua vida em prol dos outros, centrando toda a sua energia no outro, ficando exaustos por isso; 5) Controle: tentativa de mudar e impedir comportamentos do outro até à exaustão, frustração, medo de serem desleais, medo de perder o controlo (ilusório), acreditando saber o que é melhor para os outros; 6) Negação: ignorar problemas ou fingir que não estão a acontecer, minimização, esperanças irreais, acreditar nas mentiras e manipulações, viver muito ocupado para não sentir; 7) Dependência: Sem paz e satisfação com eles próprios, procuram a felicidade no outro, não conseguem imaginar viver sem o outro, procura desesperada de amor e aprovação, incapacidade de funcionar sozinhos, tolerância ao abuso do outro; 8) Comunicação deficiente: culpam, ameaçam, imploram, subornam, aconselham, não dizem o que pensam, agradadores ou provocadores, dificuldade em serem assertivos; 9) Limites ténues: ameaçam mas não cumprem, aumentam a fronteira da tolerância até se submeterem a tudo, sentindo frustração e ira permanente; 10) Falta de confiança: não confiam em si mesmos, nos seus sentimentos e decisões, assim nos outros.

Deste modo, é facilmente perceptível que as condutas dos co-dependentes são uma resposta altamente doentia dos comportamentos dos dependentes químicos, sendo, por outro lado, um factor de evolução e progressão desta doença, necessitando, assim, de uma intervenção simultânea à do dependente.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

JANELA DE JOHARI

Esta técnica foi criada e desenvolvida por Joseph Luft e Harrington Ingham, em 1955, tendo como objectivo representar os processos de dar e receber feedbacks. Por outro lado, Luft e Ingham, necessitavam de algo para auxiliar na formação de ideias claras e concretas relativamente a muitos dos nossos comportamentos nas interacções interpessoais, assim como soluções para as dificuldades comuns dos relacionamentos sociais.

Observando a figura, conclui-se que a Janela de Johari é composta por 4 divisões ou áreas. Existem, ainda, colunas (verticais) e barras (horizontais), sendo que as primeiras representam o EU e as segundas o GRUPO. 


Deste modo, a coluna “Conhecido pelo Eu” representa aquilo que eu sei a meu respeito; a coluna “Não conhecido pelo Eu” representa aquilo que eu não sei a meu respeito. Por outro lado, a barra “Conhecido pelos outros” representa aquilo que os outros (grupo) sabem sobre mim; a barra “Não conhecido pelos outros” representa aquilo que os outros (grupo) desconhecem a meu respeito.

Relativamente à primeira área – Eu Aberto – encontram-se todas as experiências, comportamentos, informações conhecidas pela própria pessoa e por aqueles que a rodeiam. Quando esta área aumenta de tamanho, tornando-se maior do que as restantes, estamos perante um aumento de confiança, coesão e partilha, onde informações relevantes são compartilhadas e, obviamente, torna-se a janela ideal de qualquer tipo de comunicação interpessoal.

A área do Eu Cego contém informações relativamente ao nosso EU que desconhecemos, mas que são do conhecimento dos que nos rodeiam. É, basicamente, o que os nossos amigos sabem a nosso respeito e não nos dizem. Por outro lado, quando interagimos, não temos ideia da forma como nos exprimimos, da posição que assumimos, de gestos que fazemos e forma de agir, mas estas são observadas pelos outros.

A área do Eu Secreto contém informações que sabemos e que queremos guardar aos outros. Podem ser segredos, sentimentos, emoções, dificuldades. As razões desta ocultação tem por base o medo de se ser rejeitado, atacado e atingido de formas negativas ao comunicar, aos outros, determinadas informações. 

Po último, na parte inferior direita da Janela de Johari, encontra-se a área do Eu Desconhecido que representa factores da nossa personalidade que desconhecemos, assim como os que nos rodeiam. Este campo poderá compreender limitações e capacidades que desconhecemos e que estão por descobrir. 

Na CRETA – Centro de Recuperação de Toxicodependentes e Alcoólicos – esta ferramenta é utilizada em qualquer dinâmica de grupo. Por se tratar de um trabalho realizado com pessoas bastante instáveis, com grande dificuldade em confiar, portadoras de inúmeros mecanismos de defesa (como foi já referido neste espaço, anteriormente), auto-estima baixíssima, torna-se difícil manter a comunicação e interacção na janela ideial (Eu Aberto). 

Devido, igualmente, aos medos que possam sentir relativamente a julgamentos, rejeições e inventários a janela mais utilizada nas comunicações é a do Eu Secreto. Por outro lado, dá-se ênfase à utilização dos benefícios da área do Eu Cego (quando o outro – Grupo – reflete ao Eu – paciente – as suas dificuldades, posturas, comportamentos, limitações e capacidades que não reconhece), já que o Grupo é o grande agente de mudança dos pacientes.

ALCOÓLICOS E NARCÓTICOS ANÓNIMOS

O Programa de Tratamento utilizado na CRETA – Centro de Recuperação para Toxicodependentes e Alcoólicos – é baseado no Modelo Minnesota. Este desenvolveu uma série de princípios que foram criados pelos Alcoólicos Anónimos, sendo natural que se mantenha, entre estes, uma relação. De igual modo, o Modelo Minnesota dá bastante importância ao envolvimento com os Grupos de Narcóticos Anónimos. 

Os Alcoólicos Anónimos (AA) são uma comunidade mundial de pessoas que se reúnem para alcançar e manter a sobriedade, através de espaços (Reuniões de AA) que se realizam diariamente. O único requisito que une todas as pessoas que frequentam estas Reuniões é apenas um: o desejo de parar de beber.

Os AA nasceram em 1935, em Akron, Ohio, através de um encontro entre dois personagens: Bill Wilson e o Bob Smith. Bill Wilson trabalhava em Nova York como corretor da Bolsa Nova-iorquina; Bob era médico cirurgião. Ambos sofriam de um problema elevado de alcoolismo. Antes de se conhecerem, frequentavam os Grupos de Oxford (grupos de pessoas não alcoólicas que procuravam mudanças através da aplicação de conceitos espirituais universais), através dos quais, Bill tinha conseguido deixar de beber. Este mantinha-se em abstinência e, juntamente com um outro amigo (“Ebby” Thacher), ajudava outros alcoólicos a encontrarem a sobriedade. Apesar de não conseguir resultados, Bill sentia que reforçava a sua mudança no sentido de manter a abstinência, sempre que tentava ajudar os outros.

Bob Smith, apesar de frequentar os Grupos de Oxford, não conseguia parar de beber e não considerava o alcoolismo uma doença, por mais que lhe dissessem e lhe apresentassem factos. Nos seus primeiros contactos com Bill, sentiu uma diferença. Este era capaz de lhe passar a mensagem de que o alcoolismo era uma doença física, emocional e mental, e os seus argumentos convenceram-no a deixar de beber. A data do início da sua sobriedade é 10 de Junho (de acordo com os AA é o dia Mundial dos Alcoólicos Anónimos).




Bob Smith e Bill Wilson começam, então, a trabalhar no Hospital de Akron, ajudando outros alcoólicos. O primeiro paciente que conseguiram ajudar formou, juntamente com Bob e Bill, o 1º Grupo de Alcoólicos Anónimos. Em 1935 e 1939, o segundo e terceiro Grupo de AA foram criados. No início desse ano, Bill escreve um livro onde explica os métodos e filosofia dos AA – Hoje conhecido por Texto Básico de AA (“Big Book”), e onde estão descritos a natureza dos tão conhecidos 12 Passos da Recuperação dos Alcoólicos Anónimos, utilizados e desenvolvidos pelo Modelo Minnesota.

Em 1943, havia já 100 alcoólicos que conseguiram a sobriedade através destes 3 Grupos e, por volta da década de 50, eram já 100.000 alcoólicos recuperados através de diversos Grupos de AA, que entretanto se expandia por todo o território dos EUA. 

Com o aparecimento de milhares de pessoas em todas as Reuniões de Alcoólicos Anónimos, Bill começou a sentir dificuldades na criação de uma ordem e de um plano de organização referente a essas mesmas Reuniões e, em 1946, desenvolveu algumas linhas de orientação que são, hoje, conhecidas pelas 12 Tradições dos Alcoólicos Anónimos.

Em 2007, os registos conhecidos das Reuniões de Alcoólicos Anónimos, ascende a 180 países, nos quais se recuperavam mais de 2 milhões de pessoas. Os números, naturalmente, têm vindo a aumentar.

Bill Wilson e Bob Smith, dedicaram-se, até às suas morte (1971 e 1950, respectivamente) ao tratamento de pessoas que sofriam da doença do Alcoolismo e ao desenvolvimento das Reuniões de AA (que, por sua vez, deram origens a outras Reuniões, tais como a dos Narcóticos Anónimos – pessoas com problemas com outras drogas –, Jogadores Anónimos e Famílias Anónimas e as Reuniões de Al-Anon – ajuda para familiares e amigos de Dependentes Químicos.   

Em Portugal, AA aparece ainda antes de 1974, sabendo-se que foi criado por um Inglês que foi viver para Lisboa. Com a divulgação feita por um Norte-Americano em Hospitais (nomeadamente a Casa de Saúde do Telhal), a importância de AA cresceu em Portugal. Foram criadas Reuniões no Algarve (1977, apesar de ser organizada por Ingleses) e no Porto (1978). Em 1989 foi criado a primeira estrutura de organização dos Alcoólicos Anónimos que assegurava os serviços mínimos, como a literatura, apoio telefónico e o passar a mensagem em Hospitais e Instituições. O Texto Básico (“Big Book”) dos Alcoólicos Anónimos foi traduzido para Português em 1994 (até aqui era em Brasileiro).

Relativamente aos Narcóticos Anónimos (NA), que foram criados em 1953, por Jimmy Kinnon, são uma irmandade sem fins lucrativos, de homens e mulheres para quem as drogas se tornaram um problema.

NA derivou das Reuniões de Alcoólicos Anónimos, utilizando os mesmos princípios (12 Passos e 12 Tradições). A primeira reunião conhecida foi realizada no sul da Califórnia e foi designada de “Narcóticos Anónimos e Alcoólicos Anónimos do Vale de São Fernando”. Em 1956 é publicada, pela primeira vez, uma publicação com o nome de Narcóticos Anónimos que continha informações relativas ao Programa de NA – os 12 Passos – e os endereços das Reuniões que, entretanto, já existiam. Por outro lado, em 1972, em Los Angeles, Califórnia, abre o Escritório Mundial de Serviço de NA, e 3 anos depois foi delineada a “Árvore de NA”, focando toda a estrutura de serviço que começava a ser implementada nas Reuniões. 

Em Portugal, NA aparece em 1986, em Lisboa. A publicação do Livro dos Narcóticos Anónimos, em Português, acontece em 1991.

NA é o 3º maior Grupo de Reuniões, depois dos AA e dos Al-Alnon. Dados de 2003 indicavam que existiam 30.000 reuniões semanais, organizadas por 19.742 grupos em 106 países e que a literatura de NA se encontra traduzida em 23 idiomas. Em Portugal, actualmente, existem cerca de 160 Grupos e 200 Reuniões semanais. 

Apesar de haver algumas reservas relativamente a Grupos de Auto-ajuda, parece que não se pode falar da ineficácia que têm na ajuda aos dependentes químicos e aos seus familiares, sendo as Reuniões de Alcoólicos Anónimos e Narcóticos Anónimos um grande exemplo disso.

MECANISMOS DE DEFESA

Há alguns dias, respondi a um questionário realizado por um grupo de alunos de Psicologia de uma escola do Algarve. A última questão era relacionada com as dificuldades maiores que, enquanto profissional de um Centro de Tratamento para Alcoólicos e Dependentes Químicos, sentia trabalhando, directamente, com os Pacientes. Lembro-me que a resposta foi longa, já que essas dificuldades são variadíssimas. Hoje, irei escrever sobre, provavelmente, a maior dificuldade: Mecanismos de Defesa (MD) dos Pacientes.

A tendência é universal: todos os seres humanos tentam evitar falar, sentir e pensar sobre situações desagradáveis das suas vidas. Os MD são comportamentos que os pacientes utilizam para reagir às próprias realidades negativas, realidades desagradáveis. Pessoalmente, entendo que a Negação é o principal MD e, enquanto não for trabalhado, eliminado, potencializa um conjunto de comportamentos que irei, de seguida, indicar e descrever.

- Culpar os outros – Os pacientes tendem, por vezes, e mais numa fase inicial do tratamento, em culpar os outros pelos seus consumos ou pelos seus comportamentos, isto é, tentam colocar o centro dos problemas nos outros, em vez neles próprios: “Comecei a consumir porque a minha mulher era uma chata”; “Fui fazer noitadas porque os meus pais tentam controlar-me em demasia”; “ Se o meu filho não fosse tão agressivo eu não lhe batia”.

- Desculpas – Arranjar desculpas para os seus comportamentos: “Eu só bebo quando me sinto deprimido, triste, sem vontade para fazer nada”; “Eu bebo porque estou a passar uma fase complicada lá no trabalho”; “Hoje vou fazer noitada porque tenho uma festa de anos”.

- Mentiras – Muitas vezes, os pacientes confundem, distorcem e omitem situações da sua vida, para não “olharem” para a sua realidade. Tentam desviar a atenção do real comportamento problemático.

- Ridicularizar – Este MD é bastante utilizado em dinâmicas de Grupo. Alguns pacientes colocam os outros “em baixo”, através de observações menos próprias e correctas. Fazem-no, principalmente, quando estão a ser o foco da atenção e com o objectivo de, precisamente, o desviarem.

- Optimismo exagerado – Quando os pacientes ultrapassam o fenómeno das ressacas físicas, muitas vezes, apresentam uma motivação alta para abandonarem o tratamento: “Bem, agora já estou melhor e consigo permanecer sóbrio, sozinho e sem a ajuda de ninguém”. 

- Ser especial e diferente – Uma forma negativa de arranjar desculpas para não continuar em tratamento e, por sua vez, continuar em adicção activa: “Ninguém se importa comigo”; “Nunca irei conseguir entrar em Recuperação”; “Ninguém me consegue compreender”; “Como é que podem compreender a minha situação!?”.

- Minimizar – Os pacientes tendem a minimizar certos comportamentos e suas consequências: “Só bebi 5 cervejas”; “Nunca bati na minha namorada, fui só agressivo verbalmente”; “Apenas bati uma vez à minha Mãe, e foi só uma chapada, não foi nada”.

- Generalizar – Não ser específico é uma forma de evitar de falar da sua realidade, assim como das consequências negativas do seu comportamento. O uso exagerado de “talvez”, “de vez em quando”, “acho que sim, mas”, “não sei”.

- Hostilidade/agressividade – quando confrontados, tendem a intimidar e assustar os outros (pacientes ou elementos da Equipa Terapêutica).

- Vitimização - Fazer-se, sistematicamente, de vítima: “Eu tive pais alcoólicos e é por isso que bebo”; “Não tenho ninguém”; “Não sou tão feliz como tu”; “Os meus pais batiam-me”. A tendência de se compararem com os que têm mais e nunca com os que têm menos.

- Jogos de Poder – Em tratamento, organizar subgrupos de forma a poder controlar o apoio para diferentes situações (quando confrontados com quebra de regras, receberem o apoio desse mesmo subgrupo).

- Segredos e mente aberta – Não permitir dar-se a conhecer. Não falar das suas dificuldades, sentimentos e pensamentos. Ter segredos e ocultá-los. Não pedir ajuda para as suas reais dificuldades.

- Grandiosidade - Falsa sensação de poder, de forma a manter os outros afastados, através da arrogância, situações de desafio, agressividade, impulsividade. É também frequente a valorização dos consumos: “ninguém consome mais do que eu”; “Eu aguento muito mais do que tu”; “Ninguém manda em mim e me diz o que fazer”; “Mas quem és tu para me dizeres isso?”.

Racionalizar – encontrar justificações para os seus comportamentos e consumos; desculpas atrás de desculpas.

Passividade – Permanecer numa atitude confortável, para não “se chatear” com algo que o está a incomodar.

Inventários – O uso deste MD apenas é negativo quando influência o paciente na sua relação com o próximo, seja membro do Grupo ou da Equipa Terapêutica, já que é quase uma tendência universal: “Ainda não conheço aquele Terapeuta, mas tem cara de mau e não quero falar com ele”; “Aquele ali, não interessa a ninguém, é muito velho para me poder ajudar”.

Todos estes comportamentos acontecem quer durante o tratamento, quer durante a adicção activa de um dependente químico ou alcoólico. São altamente destrutivos para ele e para os outros, impedindo que se possa alterar comportamentos que originam consequências bastante graves. O factor positivo é que, realmente, são todos trabalhados e modificados.