quinta-feira, 19 de julho de 2012

MODELO DE PROCHASCA E DICLEMENTE

Um dos Modelos mais importantes na fase de avaliação do Paciente, assim como no seu período de tratamento, é o chamado Modelo Transteórico de Prochasca e Diclemente.

Este Modelo é essencial para contextualizar o Paciente em termos de motivação para a mudança, tanto na avaliação inicial (já referida neste espaço), como durante todo o Processo Terapêutico, já que sem estar motivado, o Paciente dificilmente poderá responder a um Plano Terapêutico.

Diversos autores (nomeadamente Miller e Rollnick, 2001) referem que a motivação é um estado de prontidão e vontade de mudança que está sujeito a oscilações em função das diferentes situações que possam surgir ao longo do processo de um Paciente, e nunca deve ser entendida como um problema ou traço de personalidade deste.
Este Modelo refere a presença de 5 estádios de Mudança no indivíduo que não obedecem a um ciclo rígido, ou seja, não há obrigatoriamente uma ordem na qual este transita de uma fase para outra. Na verdade, este Modelo refere que o indivíduo poderá transitar nos dois sentidos, isto é, evoluindo para o estádio seguinte ou regredindo para um dos anteriores.

Deste modo, o primeiro estádio é entendido como pré-contemplação: é a fase em que se observam formas de pensamentos adictivos que possam subsidiar a manutenção dos consumos, isto é, não há qualquer reconhecimento de comportamentos problemáticos e qualquer intenção de mudança.

No estádio de contemplação, o indivíduo tanto reconhece como rejeita a existência de um consumo problemático. Simultaneamente, há comportamentos favorecedores dos consumos e, igualmente, momentos de preocupação relativamente aos mesmos. Assim, há uma enorme ambivalência sobre a sua motivação para a mudança.

O terceiro estádio é o de preparação que, como o nome indica, o sujeito já reconhece e pondera as consequências dos seus consumos. Inicia, então, uma reflexão sobre a possibilidade de abandonar estes comportamentos.


No estádio de acção, verificam-se algumas acções e movimentos do indivíduo, que procura a mudança no sentido de abandonar os seus consumos e comportamentos problemáticos.

No último estádio, o de manutenção da acção, o sujeito continuará a manter comportamentos que estejam relacionados com a eliminação de consumos e comportamentos problemáticos mantendo, igualmente, a motivação numa mudança constante.

Deste modo, trabalhar a motivação para a mudança do Paciente é fundamental, até porque toda e qualquer intervenção no âmbito do tratamento das dependências requer uma forte motivação da parte do indivíduo.

Interessa, então, levá-lo a um processo de consciência a respeito do seu beber (no caso do alcoolismo) problemático e das consequências dos seus comportamentos, assim como envolvê-lo num compromisso para com o seu próprio tratamento.

De forma a trabalhar a motivação do Paciente, fundamentalmente numa fase inicial de intervenção, pode utilizar-se a Entrevista Motivacional proposta por dois autores já referidos neste artigo: Miller e Rollnick. Esta técnica pode ser aplicada nos diferentes Processos Terapêuticos com o objectivo de ajudar as pessoas a reconhecer os seus problemas sendo, principalmente, útil para aquelas que se apresentam num estado de ambivalência em relação à possibilidade de alterar comportamentos negativos.

Por outro lado, a Entrevista Motivacional, implica alguns princípios gerais por parte de quem a utiliza. São, essencialmente, cinco: expressar empatia, desenvolver a discrepância, evitar argumentação, acompanhar a resistência do Paciente e promover a auto-eficácia.

A empatia é essencial, e está relacionada com a aceitação, conduzida por uma escuta reflexiva, respeitosa e compreensiva, onde o Terapeuta deve procurar as interpretações do Paciente, sem nunca o julgar ou corrigir. Todavia, esta aceitação não significa concordância ou aprovação.
Quando se trabalha com Pacientes dependentes, observa-se que os seus Mecanismos de Defesa (negação, minimização, justificação) são enormes sendo, por isso, importante confrontá-lo com as consequências negativas que os seus comportamentos originam. Esta situação desenvolve um conflito entre o comportamento negativo e as metas que o Paciente quer atingir para a sua vida. Quando o Paciente tem consciência desta discrepância, é provável que a mudança venha a acontecer.

Evitar a argumentação é outro dos princípios desta técnica. Deve-se, pois, evitar a confrontação directa de ideias, fazendo sempre para que ocorra, no Paciente, uma tomada de consciência do problema relativamente ao qual é necessário fazer algo. Deste modo, evita-se, também, que o paciente pense que perdeu a sua liberdade de escolha e de agir como mais lhe possa agradar.

Outro princípio da Entrevista Motivacional relaciona-se com a capacidade do Terapeuta acompanhar a resistência do Paciente, devolvendo-lhe as questões ou problemas, com o objectivo de ser ele a encontrar soluções, garantindo autonomia e responsabilidade. É importante apenas orientar o Paciente quando este dá garantias de ter capacidades e que necessita apenas de uma orientação.

Por último, deve-se promover a auto-eficácia, comprometendo o Paciente com a responsabilidade à mudança e eliminando qualquer ideia ou crença de que é o Terapeuta que a poderá operar. Torna-se, pois, importante apelar-se à responsabilidade do Paciente em decidir e realizar as suas mudanças pessoais.

1 comentário: