Um dos Modelos mais
importantes na fase de avaliação do Paciente, assim como no seu período de
tratamento, é o chamado Modelo Transteórico de Prochasca e Diclemente.
Este Modelo é essencial
para contextualizar o Paciente em termos de motivação para a mudança, tanto na
avaliação inicial (já referida neste espaço), como durante todo o Processo Terapêutico,
já que sem estar motivado, o Paciente dificilmente poderá responder a um Plano
Terapêutico.
Diversos autores
(nomeadamente Miller e Rollnick, 2001) referem que a motivação é um estado de
prontidão e vontade de mudança que está sujeito a oscilações em função das
diferentes situações que possam surgir ao longo do processo de um Paciente, e
nunca deve ser entendida como um problema ou traço de personalidade deste.
Este Modelo refere a
presença de 5 estádios de Mudança no indivíduo que não obedecem a um ciclo rígido,
ou seja, não há obrigatoriamente uma ordem na qual este transita de uma fase
para outra. Na verdade, este Modelo refere que o indivíduo poderá transitar nos
dois sentidos, isto é, evoluindo para o estádio seguinte ou regredindo para um
dos anteriores.
Deste modo, o primeiro estádio é entendido como pré-contemplação:
é a fase em que se observam formas de pensamentos adictivos que possam
subsidiar a manutenção dos consumos, isto é, não há qualquer reconhecimento de
comportamentos problemáticos e qualquer intenção de mudança.
No estádio de contemplação, o indivíduo
tanto reconhece como rejeita a existência de um consumo problemático.
Simultaneamente, há comportamentos favorecedores dos consumos e, igualmente,
momentos de preocupação relativamente aos mesmos. Assim, há uma enorme
ambivalência sobre a sua motivação para a mudança.
O terceiro estádio é o de preparação que, como o nome indica, o sujeito já reconhece e pondera as consequências dos seus consumos. Inicia, então, uma reflexão sobre a possibilidade de abandonar estes comportamentos.
No estádio de acção, verificam-se algumas
acções e movimentos do indivíduo, que procura a mudança no sentido de abandonar
os seus consumos e comportamentos problemáticos.
No último estádio, o de manutenção da acção,
o sujeito continuará a manter comportamentos que estejam relacionados com a
eliminação de consumos e comportamentos problemáticos mantendo, igualmente, a
motivação numa mudança constante.
Deste modo, trabalhar a motivação para a mudança do
Paciente é fundamental, até porque toda e qualquer intervenção no âmbito do
tratamento das dependências requer uma forte motivação da parte do indivíduo.
Interessa, então, levá-lo a um processo de
consciência a respeito do seu beber (no caso do alcoolismo) problemático e das
consequências dos seus comportamentos, assim como envolvê-lo num compromisso
para com o seu próprio tratamento.
De forma a trabalhar a motivação do Paciente, fundamentalmente numa fase inicial de intervenção, pode utilizar-se a Entrevista Motivacional proposta por dois autores já referidos neste artigo: Miller e Rollnick. Esta técnica pode ser aplicada nos diferentes Processos Terapêuticos com o objectivo de ajudar as pessoas a reconhecer os seus problemas sendo, principalmente, útil para aquelas que se apresentam num estado de ambivalência em relação à possibilidade de alterar comportamentos negativos.
Por outro lado, a Entrevista Motivacional, implica
alguns princípios gerais por parte de quem a utiliza. São, essencialmente,
cinco: expressar empatia, desenvolver a discrepância, evitar argumentação,
acompanhar a resistência do Paciente e promover a auto-eficácia.
A empatia é essencial, e está relacionada
com a aceitação, conduzida por uma escuta reflexiva, respeitosa e compreensiva,
onde o Terapeuta deve procurar as interpretações do Paciente, sem nunca o
julgar ou corrigir. Todavia, esta aceitação não significa concordância ou
aprovação.
Quando se trabalha com Pacientes dependentes,
observa-se que os seus Mecanismos de Defesa (negação, minimização,
justificação) são enormes sendo, por isso, importante confrontá-lo com as
consequências negativas que os seus comportamentos originam. Esta situação desenvolve
um conflito entre o comportamento negativo e as metas que o Paciente quer
atingir para a sua vida. Quando o Paciente tem consciência desta discrepância,
é provável que a mudança venha a acontecer.
Evitar a argumentação
é outro dos princípios desta técnica. Deve-se, pois, evitar a confrontação
directa de ideias, fazendo sempre para que ocorra, no Paciente, uma tomada de
consciência do problema relativamente ao qual é necessário fazer algo. Deste
modo, evita-se, também, que o paciente pense que perdeu a sua liberdade de
escolha e de agir como mais lhe possa agradar.
Outro princípio da Entrevista Motivacional
relaciona-se com a capacidade do Terapeuta acompanhar a resistência do Paciente,
devolvendo-lhe as questões ou problemas, com o objectivo de ser ele a encontrar
soluções, garantindo autonomia e responsabilidade. É importante apenas orientar
o Paciente quando este dá garantias de ter capacidades e que necessita apenas
de uma orientação.
Sem duvida que é assim, por experiência própria.
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