terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A (IMPORTÂNCIA DA) ACTIVIDADE FÍSICA EM DEPENDENTES QUÍMICOS

A actividade física é definida como “todo o movimento do aparelho músculo-esquelético originador de dispêndio energético, incluindo todas as formas de exercício físico e desportivo” (Caspersen et al., 1985, conforme citado por Antunes, 2012).  Para além dos benefícios ao nível esquelético, cardiovascular, muscular, respiratório, doenças coronárias, hipertensão, certos  tipos de cancro, a actividade física promove o bem-estar, o aumento da auto-estima, reduzindo o stress, ansiedade a depressão, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2000).
 
Para Pate et al. (1995, conforme citado por Antunes, 2012), a actividade física é uma componente importante de um estilo de vida bastante saudável, devido à sua influência em aspectos físicos e mentais. Por igual modo, Pederson (2006, conforme citado por Antunes, 2012), considera que a actividade física pode trazer um bem estar psicológico importante já que modifica a percepção corporal, equilibrando a sensação de auto-controle, favorencendo a interacção entre diversos pares, diminuindo a stress.
 
Por outro lado, e de acordo com os critérios do Manual CID-10, o diagnóstico da dependência química é feito quando 3 ou mais dos seguintes critérios foram vivenciados durante o último ano anterior:
a)    Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância;
b)    dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início, término ou níveis de consumo;
c)    Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a substância, ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
d)    Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas;
e)    Abandono progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da substância psicoativa: aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos;
f)     Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de conseqüencias manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por consumo excessivo de bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos conseqüentes a períodos de consumo excessivo.
 
 
 
O seu processo de recuperação pode ser composto por recaídas e tratamentos, sempre disponibilizados por uma equipa multidisciplinar (Laranjeira, 2010) onde, cada vez mais, são envolvidos os profissionais de Educação Física (Bell, 1987, conforme citado por Antunes, 2012).
 
A actividade física na recuperação de dependentes químicos é uma área que apresenta um investimento crescente surgindo, com isso, um desenvolvimento na literatura através de estudos que relacionam estes dois pontos, tanto no tratamento, como na prevenção (Collingwood, 1991, 1994 e Arranz, 1996, conforme citado por Antunes, 2012).
 
A actividade física pode actuar em diversos factores do tratamento e recuperação de dependentes químicos. Poderá, através, da actividade física, o dependente químico melhorar a auto-estima, condição física, aumentar a imunidade e melhorar a interacção social (Mialick, 2008, conforme citado por Antunes, 2012).
 
Para além de muitos factores envolvidos neste processo, a actividade física tem um papel fundamental na recuperação de dependentes químicos, sendo parte integrante de qualquer tratamento para este problema. Na maior parte dos centros de recuperação é utilizado a prática da actividade física, em conjunto com diversas outras actividades, como grupos de terapia, palestras psico-educativas, programas familiares, prevenção à recaída. 
 
Na fase posterior do internamento (normalmente, identificada por Pós-Tratamento ou After-Care), existem várias ferramentas que podem influenciar o processo de recuperação.
 
Os “7 Magníficos”, uma ferramenta criada de suporte e de ajuda para os elementos que se encontram nas duas fases de tratamento, refere que a actividade física torna-se essencial no tratamento e na recuperação. Para além do benefício físico e mental já referido anteriormente, esta ferramenta refere a importância da actividade no estabelecimento de redes de apoio, estabelecimento e concretização de objectivos e consequentemente aumento da responsabilidade, desenvolvimento de técnicas de socialização, permitindo também a manutenção de actividades prazerosas e preenchimento significativo de um plano semanal, de forma estruturada e organizada.
 
Também ao nível neurobiológico se encontram benefícios da actividade física nesta área, ou seja, estudos apontam que esta actua positivamente nos mecanismos de recompensa cerebrais, local onde as drogas psicoactivas também actuam (Smith et al., 2008ª; Brown, 2012; Lynch, 2010, conforme citado por Antunes, 2012).
 
Por outro lado, Thanos et al. (2010, conforme citado por Antunes, 2012), refere que existe uma relação positiva entre a actividade física em adolescentes e a diminuição da escolha do consumo de cocaína na vida adulta.
 
Divernos estudos de laboratório reforçam esta relação positiva (Smith et al., 2008a; Smith et al., 2008b; Thanos, 2010; Thanos et al., 2010; Cosgrove, 2002; Smith et al., 2011b; Lynch et al., 2011;a Zlebnik et al., 2010 e Zlebnik, 2010, conforme citado por Antunes, 2012).
 
Barbanti et al. (2006, conforme citado por Antunes, 2012) elaborou um estudo que indicava que a actividade física contribui fortemente para o desenvolvimento de habilidades psicológicas e sociais, assim como o aumento da qualidade de vida, em dependentes de cocaína. Pimentel (2008, conforme citado por Antunes, 2012), demonstrou através de um estudo que mulheres dependentes químicas, em tratamento, melhoraram a sua qualidade de sono, auto-imagem e reduziram o stress, com actividade física 2 vezes por semana, ao contrário do grupo que não efectuou nenhum tipo de actividade física. Ainda segundo este autor (2004, conforme citado por Antunes, 2012), a actividade física é fundamental na prevenção, tratamento e reinserção social do dependente químico, sendo os passeios, as práticas corporais e jogos os tipos de actividade física mais indicados para a fase da desintoxicação; por outro lado, desportos individuais e musculação, para a fase do tratamento e, por fim, exercícios aérobicos e desportos colectivos na fase de reinserção social.
 
João Roldão Soares
Dezembro12

REFERÊNCIAS
 

Antunes, C.F. (2012). Actividade Física em Dependentes de Cocaína:

Revisão Literária. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Educação Física.

Laranjeiro, R. & Ribeiro, M. (2010). O Tratamento do Consumidor de Cocaína:

Avaliação Clínica, Psicossocial, Neuropsicológica e de Risco. 2ª Ed. Artes Médica: São Paulo.

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