A
actividade física é definida como “todo o
movimento do aparelho músculo-esquelético originador de dispêndio energético,
incluindo todas as formas de exercício físico e desportivo” (Caspersen et
al., 1985, conforme citado por Antunes, 2012).
Para além dos benefícios ao nível esquelético, cardiovascular, muscular,
respiratório, doenças coronárias, hipertensão, certos tipos de cancro, a actividade física promove
o bem-estar, o aumento da auto-estima, reduzindo o stress, ansiedade a
depressão, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2000).
Para
Pate et al. (1995, conforme citado por Antunes, 2012), a actividade física é
uma componente importante de um estilo de vida bastante saudável, devido à sua
influência em aspectos físicos e mentais. Por igual modo, Pederson (2006,
conforme citado por Antunes, 2012), considera que a actividade física pode
trazer um bem estar psicológico importante já que modifica a percepção
corporal, equilibrando a sensação de auto-controle, favorencendo a interacção
entre diversos pares, diminuindo a stress.
Por
outro lado, e de acordo com os critérios do Manual CID-10, o diagnóstico da
dependência química é feito quando 3 ou mais dos seguintes critérios foram
vivenciados durante o último ano anterior:
a) Um
desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância;
b) dificuldades
em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início,
término ou níveis de consumo;
c) Estado
de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido,
como evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a substância,
ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção
de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência;
d) Evidência
de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são
requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais
baixas;
e) Abandono
progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da substância psicoativa:
aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou
recuperar-se de seus efeitos;
f) Persistência
no uso da substância, a despeito de evidência clara de conseqüencias
manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por consumo excessivo de
bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos conseqüentes a períodos de
consumo excessivo.
O
seu processo de recuperação pode ser composto por recaídas e tratamentos,
sempre disponibilizados por uma equipa multidisciplinar (Laranjeira, 2010)
onde, cada vez mais, são envolvidos os profissionais de Educação Física (Bell,
1987, conforme citado por Antunes, 2012).
A
actividade física na recuperação de dependentes químicos é uma área que
apresenta um investimento crescente surgindo, com isso, um desenvolvimento na
literatura através de estudos que relacionam estes dois pontos, tanto no
tratamento, como na prevenção (Collingwood, 1991, 1994 e Arranz, 1996, conforme
citado por Antunes, 2012).
A
actividade física pode actuar em diversos factores do tratamento e recuperação
de dependentes químicos. Poderá, através, da actividade física, o dependente
químico melhorar a auto-estima, condição física, aumentar a imunidade e
melhorar a interacção social (Mialick, 2008, conforme citado por Antunes,
2012).
Para
além de muitos factores envolvidos neste processo, a actividade física tem um
papel fundamental na recuperação de dependentes químicos, sendo parte
integrante de qualquer tratamento para este problema. Na maior parte dos
centros de recuperação é utilizado a prática da actividade física, em conjunto
com diversas outras actividades, como grupos de terapia, palestras
psico-educativas, programas familiares, prevenção à recaída.
Na
fase posterior do internamento (normalmente, identificada por Pós-Tratamento ou
After-Care), existem várias ferramentas
que podem influenciar o processo de recuperação.
Os
“7 Magníficos”, uma ferramenta criada de suporte e de ajuda para os elementos
que se encontram nas duas fases de tratamento, refere que a actividade física
torna-se essencial no tratamento e na recuperação. Para além do benefício
físico e mental já referido anteriormente, esta ferramenta refere a importância
da actividade no estabelecimento de redes de apoio, estabelecimento e
concretização de objectivos e consequentemente aumento da responsabilidade,
desenvolvimento de técnicas de socialização, permitindo também a manutenção de
actividades prazerosas e preenchimento significativo de um plano semanal, de
forma estruturada e organizada.
Também
ao nível neurobiológico se encontram benefícios da actividade física nesta
área, ou seja, estudos apontam que esta actua positivamente nos mecanismos de
recompensa cerebrais, local onde as drogas psicoactivas também actuam (Smith et
al., 2008ª; Brown, 2012; Lynch, 2010, conforme citado por Antunes, 2012).
Por
outro lado, Thanos et al. (2010, conforme citado por Antunes, 2012), refere que
existe uma relação positiva entre a actividade física em adolescentes e a
diminuição da escolha do consumo de cocaína na vida adulta.
Divernos
estudos de laboratório reforçam esta relação positiva (Smith et al., 2008a;
Smith et al., 2008b; Thanos, 2010; Thanos et al., 2010; Cosgrove, 2002; Smith
et al., 2011b; Lynch et al., 2011;a Zlebnik et al., 2010 e Zlebnik, 2010,
conforme citado por Antunes, 2012).
Barbanti
et al. (2006, conforme citado por Antunes, 2012) elaborou um estudo que
indicava que a actividade física contribui fortemente para o desenvolvimento de
habilidades psicológicas e sociais, assim como o aumento da qualidade de vida,
em dependentes de cocaína. Pimentel (2008, conforme citado por Antunes, 2012),
demonstrou através de um estudo que mulheres dependentes químicas, em
tratamento, melhoraram a sua qualidade de sono, auto-imagem e reduziram o
stress, com actividade física 2 vezes por semana, ao contrário do grupo que não
efectuou nenhum tipo de actividade física. Ainda segundo este autor (2004,
conforme citado por Antunes, 2012), a actividade física é fundamental na
prevenção, tratamento e reinserção social do dependente químico, sendo os
passeios, as práticas corporais e jogos os tipos de actividade física mais
indicados para a fase da desintoxicação; por outro lado, desportos individuais
e musculação, para a fase do tratamento e, por fim, exercícios aérobicos e
desportos colectivos na fase de reinserção social.
João Roldão Soares
Dezembro12
REFERÊNCIAS
Antunes,
C.F. (2012). Actividade Física em
Dependentes de Cocaína:
Revisão Literária.
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Educação
Física.
Laranjeiro,
R. & Ribeiro, M. (2010). O Tratamento do Consumidor de Cocaína:
Avaliação Clínica,
Psicossocial, Neuropsicológica e de Risco. 2ª Ed. Artes
Médica: São Paulo.
Sem comentários:
Enviar um comentário